SETE HÁBITOS PARA OUVIR O CORAÇÃO!
Neste artigo o autor descreve o que é a cardiossensibilidade.
Estabelecendo contato com seu coração
“A verdadeira viagem de descobrimentos
consiste não em procurar novas terras,
mas em ver com novos olhos.”
- MARCEL PROUST
SUA CABEÇA OU SEU CORAÇÃO?
Se as pessoas que o conhecem melhor tivessem de escolher diriam que você é “mais cabeça” ou “mais coração”? Descreveriam você como alguém que toma decisões baseado quase exclusivamente em considerações racionais e analíticas das questões em discussão ou como alguém que propende mais para a intuição e o instinto? Embora a qualidade e a extensão de nossa vida exijam que aprendamos a empregar construtivamente o potencial do cérebro em atitudes lógicas, poderemos também aprender a compartilhar uma vida saudável, menos estressada e mais afetiva estabelecendo contato com o código do coração e compreendendo que, além da metáfora, o coração pode ter sua maneira singular de pensar e sentir, não menos importante que a maneira do cérebro de lidar com o mundo.
Já lemos que um cérebro não refreado pelo coração pode compor uma aliança devastadora com seu corpo. No cumprimento de seu imperativo evolutivo de auto desenvolvimento e autopreservação, ele pode negligenciar a necessidade espiritual de conscientizar-se da mais sutil informação que exprime a razão de a alma manifestar-se fisicamente e de suas necessidades dentro dessa manifestação. Este capítulo discute algumas possíveis maneiras de o indivíduo tornar-se mais cardiossensível e de ajudar o cérebro a desenvolver maior consciência da disponibilidade de um parceiro que pensa de uma maneira diferente da dele e com o qual ele pode ser mais criativo e unido, e ser capaz de acalmar sua supervisão do corpo através da vivência cotidiana.
LIÇÕES ENSINADAS POR CARDIOSSENSÍVEIS
Venho empregando o termo cardiossensíveis para descrever a porcentagem relativamente pequena de pessoas de minha amostra de setenta e três receptores de transplante cardíaco que parecem ser capazes de estabelecer contato com a sutil energia “V” ou energia informativa da vida, que pode ser o código que o coração emprega em sua maneira singular de pensar e sentir. Embora quase todos os setenta e três pacientes tenham relatado algum tipo de associação com a energia de seu doador, cerca de dez por cento revelaram-se especialmente cardiossensíveis. Embora este grupo constitua os superstars entre os cardiossensíveis, cada paciente que entrevistei apresentou algum sinal de mudanças pessoais singulares relacionadas com seu coração novo. Além das histórias de meus pacientes, tenho apresentado também casos de pacientes de outros pesquisadores e clínicos, e de transplantados cardíacos que conheci no decorrer de minhas muitas palestras sobre energia “V” e memórias celulares e que também parecem estar singularmente adaptados ao seu novo coração. Algumas das características dessas pessoas cardiossensíveis foram apresentadas no capítulo 4. Notei, todavia, que não foram apenas esses pacientes muito especiais que revelaram cardiossensibilidade, mas também alguns membros de suas famílias e das famílias dos doadores. Percebi também que essas pessoas pareciam apresentar algumas das características dos perceptivos e operadores do PEAR, os quais, de acordo com os dados dos 50 milhões de tentativas experimentais de Princeton, que contêm mais de 3 bilhões de bits de informação, pareciam sensíveis à sutil mas significativa equivalência de energia e informação que chamo de código do coração. De acordo com o teor desses relatórios, parecia estar ocorrendo o surgimento de, pelo menos, uma lista preliminar e experimental de alguns traços de um indivíduo cardiossensível.
Para facilitar a discussão da cardiossensibilidade e do processo de travar contato informativo com o coração, reuni as averiguações preliminares sobre a energia “V”, o coração sensitivo, e memórias celulares a fim de elaborar um teste que pudesse servir de ponto de partida para estudos adicionais. Com o auxílio de muitos de meus pacientes de transplante cardíaco e de pessoas que meus pacientes e outros identificaram como sendo “mais coração que cabeça”, desenvolvi a Cardio-Sensitivity Inventory (CSI) [Lista dos Traços de Personalidade, Aptidões, Atitudes, etc. Relativas à Cardiossensibilidade]. Essa lista não representa uma mensuração direta da energia “V” ou graduação de qualquer habilidade especial. É uma tentativa preliminar de começar a compreender um pouco mais a natureza daqueles que parecem estar familiarizados com a linguagem de seu coração. Já usei o CSI com pacientes, enfermeiras, médicos residentes e outros profissionais da área de saúde como um ponto de partida para discussões sobre possíveis maneiras pelas quais o coração pode estar transmitindo, pelo menos, tanto informação espiritual quanto nutrição bioquímica.Segue-se abaixo uma reprodução do CSI. Cada um dos cinqüenta itens provém de minhas entrevistas com cardiossensíveis, na medida em que pareciam refletir, de maneiras diversas, alguns dos componentes associados à cardiossensibilidade. Cada item está enunciado nas palavras empregadas pelos entrevistados, palavras indicativas de setores que estes consideravam dignos de estudo. Não há qualquer implicação de que uma das respostas seja a resposta correta ou a melhor delas. Além disso, com a finalidade exclusiva de gerar debates, estipulei um sistema de pontuação bastante rudimentar.
Lista dos Traços de Personalidade, Aptidões,
Atitudes, etc. Relativas à Cardiossensibilidade (CSI)
Dr. Paul Pearsall, Ho'ala Hou, Inc., 1997
Use a escala que se segue para responder às perguntas abaixo. Selecione o número negativo ou positivo da escala que mais aproximadamente representa o ponto em que você se encontra em relação a cada item.
Quase Nunca 50% das Vezes Quase Sempre
-5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5
___1. Acho que posso influir no que acontece às pessoas e às coisas simplesmente pela maneira como penso nelas e o que penso delas.
___2. Acho que os objetos mecânicos podem ficar “de mau humor”, de forma que falo afável e delicadamente com meu computador e outras máquinas a fim de tentar persuadi-los a funcionarem melhor.
___3. Tenho um “sexto sentido” muito forte e acho que sou “paranormal”.
___4. Posso garantir o que uma pessoa vai dizer antes que ela abra a boca.
___5. Sou muito sugestionável, “concordo com os outros” facilmente, e provavelmente poderia ser hipnotizado com muita facilidade.
___6. As pessoas diriam que tenho uma tendência para ter aquilo que a sociedade geralmente percebe como um “lado feminino” muito forte.
___7. Sigo minha “coragem” e não “os fatos”.
___8. Acredito que as pessoas e as coisas emitem “vibrações”, ou energia invisível.
___9. Tenho um ótimo sentido de intuição e confio nele.
___10. Rio com facilidade e freqüentemente.
___11. Choro facilmente, na intimidade ou em público.
___12. Sou um “sonhador” que passa muito tempo recusando-se propositadamente a “enfrentar a realidade”.
___13. Não sou competitivo e prefiro “simplesmente jogar” a “vencer”.
___14. As pessoas diriam que sou um “indivíduo muito necessitado”.
___15. Emprego muito mais a palavra “nós” do que “eu”.
___16. Tenho interesse, gosto de ler e de falar sobre coisas espirituais e os aspectos da vida que não podem ser vistos ou tocados.
___17. Aqueles que me conhecem bem diriam que pareço um tanto esquisito e muito diferente da maioria das pessoas que eles conhecem.
___18. Mesmo com relação a coisas simples e pequenas, é-me extremamente difícil tomar uma decisão.
___19. Tenho certeza absoluta de que há vida em outros planetas.
___20. Acredito que “coincidências” não existem e que tudo acontece devido a uma razão predestinada que não conseguimos entender.
___21. Gosto de tocar, segurar e abraçar.
___22. Quando a música começa sou o primeiro que se apresenta para dançar.
___23. Sou muito habilidoso com as mãos e gosto de fazer coisas como pintar, esculpir e trabalhar como carpinteiro.
___24. Acho que se pode confiar nas pessoas e que elas de maneira alguma são propensas a tirar proveito do próximo.
___25. Posso ver e sentir energia fluindo entre pessoas e coisas.
___26. Sou capaz de dizer o que está fazendo e o que está sentindo alguém com quem me preocupo e exatamente onde está esse alguém mesmo quando não está comigo.
___27. Acredito em amor à primeira vista.
___28. Perturbo-me com facilidade.
___29. Adoro cantar ou cantarolar acompanhando música clássica.
___30. Dizem que sou muito inocente e ingênuo.
___31. Prefiro escrever à mão a datilografar ou trabalhar com um computador e escrevo coisas como poesia, canções ou cartas todas as semanas.
___32. Fico contrariado com grande facilidade.
___33. Tenho flashbacks e, às vezes, tenho a impressão de ficar extasiado.
___34. Dizem que mudo de idéia constantemente.
___35. Animais de todas as espécies são atraídos por mim instantaneamente.
___36. As crianças me adoram.
___37.Tenho “boa mão” para o cultivo de plantas e muito boa sorte com estas e com flores.
___38. Falo com minhas plantas para ajuda-Ias a crescer.
___39. Tenho sonhos muito intensos, minuciosos e longos.
___40. Adoro compartilhar e interpretar meus sonhos.
___41. Tenho uma memória perfeita não só de minha vida mas também da vida dos outros.
___42. As pessoas diriam que sou um excelente ouvinte.
___43. Aqueles que melhor me conhecem diriam que não sou de modo algum dominador ou mandão e que sou um ótimo seguidor.
___44. Tenho muitas lembranças tristes que nunca me deixam.
___45. Às vezes, sem nenhum motivo, sinto-me muito deprimido.
___46. Conscientizo-me instantaneamente da “sensação” produzida por um quarto ou uma casa.
___47. Meus sentidos de paladar, olfato e audição são muito aguçados e precisos.
___48. Acredito em alguma forma de reencarnação.
___49. Creio no poder da criação.
___50. Falo em voz alta com alguém que morreu.
COMO INTERPRETAR A CONTAGEM DE SEU TESTE CSI
____ 1. Some o valor total de seus pontos “+” acima de “0”.
____ 2. Some o valor total de seus pontos “-” abaixo de “0”.
TOTAL DE PONTOS “+” MENOS TOTAL DE PONTOS “-” = CONTAGEM CSI
De acordo com minhas entrevistas e as pesquisas relatadas na Parte I deste livro, conclui-se que as pessoas que marcaram acima de 0 mas abaixo de 100 foram aquelas que pareceram ser mais cardiossensíveis. Não eram significativamente preconceituosas em relação aos popularmente denominados “fenômenos psíquicos” e mantinham-se realisticamente abertas em sua disposição de lidar com possibilidades tais como conexão de energias, memórias celulares e um código do coração. Seus relatos de conexões de energia tendiam a ser corroborados por membros da família e, no caso de meus pacientes de transplantes cardíacos, havia a colaboração dos membros da família do doador.
As pessoas que haviam marcado acima de 100 eram mais suscetíveis de relatar formas várias daquilo que, segundo diziam, eram conexões “parapsíquicas” de forte energia ou experiências em suas vidas, ou ainda, no caso de receptores de transplantes, logo após o recebimento do novo coração - experiências menos comprováveis. Diferentemente das pessoas do grupo 0 a 100, que freqüentemente relutavam em falar sobre suas experiências com a energia “V”, o grupo dos que marcaram acima de 100 falava aberta e facilmente de suas experiências e amiúde as atribuía a uma nova filosofia de vida que tinham construído ou adotado após essas experiências. No outro grupo não se observaram quaisquer mudanças de enfoques filosóficos ou psicológicos sobre a vida.
As pessoas cujas respostas se concentraram mais nos aspectos negativos tendiam a rejeitar quase qualquer possibilidade da existência da energia “V” e freqüentemente demonstravam raiva com relação àquelas que relatavam conexões energéticas. Como seria de esperar, observei em minhas entrevistas que quanto mais negativo o resultado do teste, maior o volume de ira, recusa e escárnio da possibilidade de existência de uma energia “vital.”
De acordo com o que aprendi com os cardiossensíveis, parece existir um processo que facilita um nível intensificado de percepção da informação que acompanha a energia, a qual é transplantada com novas células em um transplante de órgão ou, talvez, menos profundamente, mas não menos significativamente, em qualquer indivíduo, é proveniente de todas as pessoas, lugares e coisas. Este processo poderia ser denominado “cardiocontemplação”, pois acalma o coração e aquieta o cérebro suficientemente para que este se torne mais alerta aos sinais que podem estar provindo do coração.
CARDIOCONTEMPLAÇÃO
A palavra “contemplação” deriva do grego tempo que significa qualquer coisa demarcada, como uma estação do ano, período ou tempo. A palavra latina templum também provém do grego tempo e refere-se a um lugar aonde as pessoas iam para dar atenção aos presságios. Quando os gregos ou os romanos estavam no interior de seu templum, contemplavam, ponderavam e deliberavam em conjunto. “Con” significa em conjunto ou com outros, de forma que “cardiocontemplação” significa o ato de ponderar com nosso coração sobre nosso vínculo com o mundo e a significação deste. Ponderar, aqui, é um processo menos mental que espiritual. A cardiocontemplação significa estar em um estado que permita a alguém estar mais apto a extrair informação sobre a alma, a partir da energia que provém do coração. É estar mais sensível à energia sutil da vida e experimentá-la como algo que diz respeito a “nós” e não a “mim”. Parece ser uma maneira de “ser” mais do que uma maneira de fazer algo e, à semelhança do que aconteceu com os operadores do PEAR, significa estar acessível à possibilidade de estabelecer conexão com a energia sutil em vez de esforçar-se para fazer as coisas acontecerem.
Um menino de oito anos de idade que havia recebido um coração novo descreveu a natureza da cardiossensibilidade e da cardiocontemplação como uma coisa que ocorre e não como algo que se conquista. Disse ele: “Posso sentir o outro menino dentro de mim. Quando minha imunidade subiu e finalmente me deixaram brincar com Pierre [o cachorrinho poodle francês da família] novamente, comecei a chamá-lo de King. Não sei por quê. Talvez o cão de meu doador se chamasse King. De qualquer maneira, agora posso sentir o outro menino comigo. É como quando você bate o joelho e não sabe, e quando se senta para assistir televisão ou fazer qualquer coisa e você vê o machucado, aí começa a sentir e não esquece mais. Mesmo depois que melhora e a casca da ferida cai, sua perna sempre se lembra de onde estava o ferimento”.
UMA JANELA PARA O INCONSCIENTE COLETIVO
A cardiocontemplação pode ser vista como uma das maneiras de estabelecer conexão com aquilo que alguns psicólogos, mais particularmente Carl Jung, denominaram inconsciente coletivo. Em certo nível energético sutil, toda a informação acumulada por aqueles que nos precederam pode ainda ser universalmente representada no sistema de memória de cada célula de nosso corpo. Dispor-se a tornar o cérebro menos vigilante e ficar mais alerta à energia informativa sutil que repercute cada batida do coração pode ser algo semelhante a sintonizar um aparelho de rádio na estação que transmite o programa de nossa memória celular coletiva.
A cardiocontemplação pode ser um processo que nos permite estabelecer contato com nossa alma através de ligação com sua energia espiritual. Pode ser uma maneira de recordar nosso paraíso infantil, propiciando um relance espiritual de como eram as coisas antes de o cérebro assumir a tutela. Pode ser uma maneira de encontrarmos nosso caminho de volta para a forma de como as coisas deveriam ser em vez de cedermos às exigências que o mundo do cérebro parece incessantemente colocar sobre nós. Pode ser uma maneira de estabelecer uma conexão de energia com o sistema de energia informativa que sempre nos rodeia. Pode ser uma maneira de aprender, comunicar e unir a experiência física da personalidade de um indivíduo ao conhecimento que existe dentro da estrutura vibratória da Mente, formada de cérebro, coração e corpo - nossa consciência compartilhada.
Sob certos aspectos, a cardiocontemplação é semelhante à meditação, mas é singular na ênfase que dá ao coração. É um processo combinatório, coletivo e conectivo que nos permite sintonizar a memória da sensação que constitui o fato de termos paixão por estarmos vivos. Assim como os pacientes cardiossensíveis de transplante de coração são fisiologicamente forçados a reconhecer sua conexão com a energia que compartilham com outra pessoa, qualquer um de nós poderia ser capaz de dar plena liberdade ao nosso “observador oculto”, aquela parte de nós que permanece atenta e sensível à emoção de viver, mesmo quando o cérebro está atarefado e aturdido no esforço de nos ajudar a ganhar a vida.
CAMINHOS DA VONTADE
Para compreender o processo da cardiocontemplação é necessário compará-lo com os processos mais conhecidos de iluminação ou de percepção, tais como as técnicas de meditação, visualização e de imagens mentais. O processo de meditação geralmente refere-se a um grupo de técnicas que induz um estado alterado de concentração da atenção e percepção intensificada. Praticamente todas as tradições espirituais e religiosas incluem alguma forma de meditação, e a pesquisa mostra que estados de meditação tendem a produzir mudanças físicas positivas no corpo inteiro, até mesmo respiração e pulsação mais lentas, pressão sangüínea mais baixa e relaxamento dos músculos tensos.
Embora a meditação seja um processo complexo, divide-se geralmente em duas partes - técnicas de concentração e abertura.
Para se alcançarem estados de consciência alterados, essas duas eficientes abordagens tendem a apoiar-se, até certo ponto, principalmente na maneira de agir da cabeça ao invés da do coração. As técnicas de concentração utilizam a convergência da atenção e da percepção na respiração, numa palavra ou numa frase. Enquanto a pessoa respira profundamente, pode repetir mentalmente um número, uma palavra (mantra) ou frase religiosa. As técnicas de abertura realçam a percepção do momento presente, isenta de julgamento e avaliação. Em vez de se concentrar num objeto, som, atividade ou imagem, o meditador fixa a atenção no aqui-e-agora, deixando que quaisquer pensamentos perturbadores se dispersem, como nuvens no céu, sem levá-los em consideração. Ambas as técnicas são essencialmente meios de substituir sensação por significação e, cada uma à sua maneira, pode ser um meio através do qual a energia “V” poderá ser experimentada.
Existem duas derivações da meditação, estreitamente relacionadas, freqüentemente empregadas na cura holística. Visualização é o processo que tenta ensinar o corpo a efetuar diretamente a cura pela imaginação, ou pela visualização de imagens especialmente escolhidas, tais como artérias obstruídas recebendo uma limpeza com escovas, ou células cancerosas sendo devoradas por tubarões. A técnica das imagens mentais é menos uma tentativa de “perceber” que de experimentar e criar pensamentos, e gerar sensações de ardor, afeição e amor. A visualização procura ver uma maneira de ser sadio, ao passo que o processo das imagens mentais é uma tentativa de união com a sensação de estar sadio. Estes dois enfoques pressupõem grande esforço mental ou “do cérebro”.
A técnica de relaxamento, conforme a propôs inicialmente o dr. Herbert Benson é uma maneira de tirar a atenção dos pensamentos aflitivos ficando atento à respiração e pronunciando uma palavra destituída de emoção, como o número um, por exemplo. É uma reação natural do corpo e do sistema nervoso, que, como a meditação, é uma forma daquilo que o escritor Spencer Holst denomina “silêncio magnífico”. A cardiocontemplação pode ser considerada como algo que ocupa a atenção de outra de nossas reações naturais - nossa “reação de ressonância”. Faz pausas silenciosas e vibra com toda a energia, sentimentos e sensações do momento, num estado descrito no Institute of HeartMath como “paz amplificada”.
A cardiocontemplação não é simplesmente administração do tempo ou redução de energia. É semelhante àquilo que o escritor Stephen Rechtschaffen chama de “deslocamento de tempo”. Significa permitir que nosso coração permaneça aberto à sua ressonância natural com todas as energias do momento presente e, desse modo, expandir-se, imobilizar-se ou fazer uma pausa espiritual, a fim de permitir que o eu fique totalmente imerso no momento quântico presente. O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi aludiu a um estado semelhante que denominou “fluxo”, o qual significa ficar tão completamente absorto naquilo que se está fazendo que todo sentido de tempo, espaço e individualidade parece desaparecer. O pianista Arthur Rubinstein descreveu o poder dessas pausas momentâneas e que o tempo não afeta (atemporais) quando disse: “As notas, toco-as como qualquer outro pianista. Mas as pausas, ah, as pausas.”
A cardiocontemplação abrange aspectos de todas as abordagens acima mas difere delas de três maneiras. Tende a ser experimentada como menos pessoal e mais conectiva, mais rítmica energeticamente do que concentrada na mente e estática, e mais atenta e receptiva aos sinais do corpo ao invés de alheia a eles. É menos visualizar uma cena do que lembrar-se de como tomar parte da energia da cena atual. Na cardiocontemplação a pessoa sintoniza as delicadas “sensações” energético-informativas que parecem provir do coração, ao invés de uma palavra, som, respiração ou imagem que pode ser experimentada como algo que se origina de uma consciência em alguma parte do cérebro.
ATRAVÉS DO CORAÇÃO
O psicólogo Alan D. Watkins diferencia aquilo que denomina “técnicas de intencionalidade conscientes”, tais como meditação, imagens mentais, visualização, técnica de relaxamento e afirmações positivas, do processo de deslocar intencionalmente a atenção emocional para um estado positivo concentrando-a no coração e tentando profunda e sinceramente experimentar novamente sentimentos passados de desvelo e apreciação ali armazenados. Ele não rejeita o valor da meditação e de outras técnicas quando comparadas com a abordagem centrada no coração que chamo de cardiocontemplação, mas faz distinção entre o caráter cerebral da intencionalidade consciente (os caminhos da vontade) e a natureza das “emoções” (cardiossensibilidade). Ele estabelece uma distinção “entre os efeitos fisiológicos das técnicas mentais e conscientes e os das técnicas emocionais centradas no coração”.
Os psicólogos empregam a palavra “metadisposição” para aludirem a um estado de percepção das próprias emoções do indivíduo. A cardiocontemplação é um sistema para desenvolver esse estado de percepção não pela via do intelecto, mas pela concentração emocional no centro de energia do corpo - o coração. Assim como o cérebro está para a inteligência intelectual, o coração está para a inteligência emocional.
DEMONSTRANDO COERÊNCIA CARDíACA
Ao estudarem a meditação e os outros estados descritos acima, os pesquisadores com freqüência percebem mudanças nas ondas cerebrais que indicam um estado mais descontraído. Quase a mesma coisa acontece com um coração que está no processo de cardiocontemplação. Um trabalho precursor sobre o estado denominado “coerência cardíaca”, o qual é alcançado através da cardiocontemplação, foi realizado no Institute of HeartMath, em Boulder Creek, na Califórnia, a associação educacional sem fins lucrativos mencionada anteriormente neste livro, cujo lema é “devolvendo o coração às pessoas”. Esse trabalho mostra que a coerência cardíaca é um estado equilibrado, jubiloso e estável da energia do coração induzido pela cardiocontemplação e um processo semelhante ao qual o pessoal do Institute of HeartMath chama de “Técnica de Congelamento da Imagem”. Este processo pesquisado pelo HeartMath Institute implica o reconhecimento da existência de um sentimento estressante específico que exige um esforço mental para deslocar a atenção para sensações que provêm da área do coração em vez da do cérebro. Relembra-se um acontecimento muito positivo do passado e solicita-se mentalmente ao coração que, através de seus insights, mostre qual poderia ser uma boa maneira de lidar com a situação estressante, maneira que poderia induzir um estado parecido com aquele do acontecimento positivo do passado. Como se o coração tivesse contratado os serviços de sua reação de ressonância natural, esta é traduzida em eletrocardiogramas como um suave conjunto de curvas moderadas que revelam os ritmos cardíacos batimento-a-batimento e os intervalos entre batimentos. A “incoerência” cardíaca é revelada pela inconsistência do ritmo do coração que aparece na forma de linhas serrilhadas agudas no eletrocardiograma.
Você já terá experimentado esse estado de cardiocoerência em sua vida, ou provavelmente não estaria vivo e lendo este livro. Lembre-se de uma ocasião na qual você teve a impressão de que o tempo havia parado. Lembre-se de uma ocasião na qual, sem qualquer esforço de sua parte, você teve a impressão de entrar em perfeita sincronização com o mundo à sua volta como se estivesse vibrando com ele e sentindo sua energia. Talvez você não estivesse meditando nem tentando praticar a cardiocontemplação. Em vez disso poderia estar tricotando, ou fazendo uma grinalda, ou uma mesa nova, ou até tomando iogurte de baunilha, mas pelo menos durante um momento você perdeu todo sentido de individualidade e foi “arrastado” ou foi colocado em sincronismo não com a velocidade da vida moderna, mas com as energias naturais, brandas e oscilantes da natureza. Em ocasiões como essa, você pode ter contatado o mundo com seu coração. As pesquisas realizadas no HeartMath Institute parecem constatar muitas das hipóteses da cardiologia da energia e da cardioenergética. E também comprovam que sentimentos de afeição, apreço e desvelo e o estabelecimento de pausas para entrar em contato com o mundo têm relação com funções cardiovasculares mais saudáveis. Os pesquisadores do Institute também documentaram o fato de que a coerência cardíaca, isto é, um coração jubiloso e tranqüilo, aumenta a imunidade e intensifica o processo de cura ao criar um equilíbrio sincronizado simpático-vagal ou neuro-hormonal que libera os instintos curativos naturais do corpo para produzir seus milagres. Leremos mais sobre isso no capítulo 11.
Empreguei minha própria versão da Técnica de Congelamento da Imagem de cardiocontemplação durante mais de vinte e cinco anos com meus pacientes no Hospital Sinai, em Detroit Assim como na Técnica de Congelamento da Imagem, eu solicitava aos meus pacientes que tentassem experimentar emocionalmente sensações provenientes do coração em vez de tentar relembrar mentalmente uma imagem visual de uma experiência positiva ocorrida no passado. Pedia-lhes que tentassem estabelecer distinção entre aquilo que o psicólogo Richard Rechtschaffen denomina tempo “mental” ou do cérebro e tempo “emocional” ou do coração. Para explicar essa diferença, o dr. Rechtschaffen pede aos seus pacientes que primeiramente pensem num balão vermelho. Geralmente eles não encontram dificuldade nisso. Depois lhes pede que se sintam muito tristes ou muito felizes. Os pacientes geralmente relatam que isto não é tão fácil porque “sentir leva tempo”. A cardiocontemplação pressupõe ausência de pressa, é empregar o tempo que for necessário para deixar o coração sentir-se livre das pressões mentais de um cérebro “arrastado”, ou sincronizado mais com bips e ruídos eletrônicos do que com o gorjeio dos pássaros e o farfalhar das árvores.
A cardiocontemplação não é “pensar” sobre uma maneira nova de lidar com o estresse. Não pretende reduzir o estresse mas sim transformá-lo, gerando um estado de ressonância com o mundo natural e outros corações, de maneira que o estresse tenha menor domínio sobre a Mente, composta de cérebro, coração e Corpo. É um estado no qual as memórias celulares ficam mais desimpedidas para surgir, e quando o fazem, segundo minha pesquisa indica, seu aparecimento é comunicado pelo rompimento do pacto devastador cérebro/corpo, do que resultam pressão sangüínea reduzida, músculos relaxados, respiração mais profunda e um traçado lento, normal e firme das pulsações cardíacas no eletrocardiógrafo, semelhantes às relatadas pelo HeartMath Institute.
As duas últimas etapas no processo de cardiocontemplação consistem em tentar empregar o coração não apenas para recuperar memórias de estados tranqüilos do passado, mas também para armazenar as memórias do momento presente contemplativo e jubiloso como memórias celulares, e depois tentar transmitir a energia “V” equilibrada para todos e tudo à nossa volta.
Resumindo o valor da coerência cardíaca, o pesquisador Rollin McCraty escreve: “Podemos gerar intencionalmente a coerência cardíaca. Isto promove a lucidez da mente enquanto o 'som branco' da atividade elétrica incoerente e aferente (a disrupção energética que provém de um cérebro estressado) se reduz”. É a isto que chamo de cardiocontemplação, aprender a dar atenção ao coração, ajudá-lo a acalmar-se, relacionar-se com ele como um professor e fazer o cérebro calar-se o tempo suficiente para deixar o coração cantar. É uma maneira de evitar a crise identificada por Oliver Wendell Holmes quando escreveu: “Ai daqueles que nunca cantam e morrem com toda sua música dentro de si”.
SETE HÁBITOS PARA OUVIR O CORAÇÃO
Pierre Teilhard de Chardin escreveu: “Os males de que estamos sofrendo tiveram sua base na própria criação do pensamento humano”. As palavras dele refletem os perigos de um mundo dominado por um cérebro insensível que parece dizer “Eu sou tudo”, enquanto o coração, freqüentemente menosprezado, diz: “Sem todos os outros não sou nada”. As sete orientações da cardiocontemplação comentadas abaixo são maneiras através das quais poderemos fazer com que a Mente, constituída de cérebro, coração e corpo, nos auxilie a propiciar a significação e o equilíbrio para o trabalho do cérebro. Assim fazendo poderemos estar mais aptos a seguir a sugestão de Thoreau: “Se construístes castelos no ar, não há razão para julgardes perdido vosso trabalho. Colocai agora o alicerce sob eles”.
Como um sumário do processo de sintonização do código do coração e das memórias que ele transmite, segue-se uma recapitulação de algumas das sugestões feitas neste livro sobre a cardiocontemplação e o contato com o código do coração.
1. Aquiete-se. Para entrar em sintonia com o coração é necessário diminuir o ritmo da vida diária, sentar-se e acalmar-se. Você não precisa assumir qualquer posição corporal específica, mas é necessário ficar suficientemente tranqüilo e silencioso para se conscientizar plenamente do momento presente, em vez de preparar-se para o momento seguinte ou preocupar-se com um momento passado não aproveitado. Mestre Eckhart, místico cristão do século 13, disse: “Em toda a criação não há nada que se assemelhe tanto a Deus como o silêncio”. Fique imóvel, pare de pensar, não recorra a nenhuma tática ou técnica especial. Basta ficar imóvel durante alguns instantes. Uma maneira de conseguir fazer isto é respirar profundamente e suspirar.
2. Não leve as coisas tão a sério. Alguém disse uma vez que a pessoa comum não se julga assim. Não se leve tão a sério. Você está longe de ser tão poderoso ou de estar no controle das coisas como seu cérebro acha que está ou tem de estar. A maioria dos problemas, realizações e preocupações que experimentamos em determinados momentos é transitória e tem pouquíssima relevância no plano geral da nossa vida. Um coração pode tornar-se abatido tanto espiritualmente quanto em termos das mudanças fisiológicas que normalmente acompanham os encargos de um cérebro inexorável. Não nos esqueçamos da perspicácia do escritor inglês G. K. Chesterton: “Os anjos voam porque dão a si mesmos uma leve importância”.
3. Cale-se. Pare de falar, não fale nem mesmo com você. É uma resolução muito difícil, pois o cérebro está sempre tagarelando sobre suas quatro atitudes básicas: alimento (como conseguir mais comida), luta (como proteger seu território), fuga (como se deslocar para outro lugar) e sexo (como obter prazer físico intenso e imediato). Experimente não dar atenção ao seu cérebro por um certo espaço de tempo e deixe-o falando consigo. Tente deixar seu “observador oculto”, aquela parte de você que está sempre alerta até mesmo quando o cérebro está em repouso, ficar de olho nas coisas enquanto você descansa. Agir menos e falar menos é geralmente bom para a saúde mental, espiritual e física. Siga o conselho de Oscar Wilde: “Não falo com Deus para não entediá-lo”.
4. Produza ressonância. A cardiocontemplação é uma forma de prece receptiva. Não significa pedir algo a um Poder Superior ou conversar com esse Poder, mas prestar atenção à força que existe no interior do coração, pois este tem profunda percepção da união do indivíduo com o Criador. Escreve o médico Larry Dossey: “Em sua forma mais simples, a prece é uma atitude do coração - uma questão de ser, não de agir. A prece é o desejo de unir-se ao Absoluto, seja este concebido como for. Quando experimentamos a necessidade de estabelecer essa união, estamos fazendo uma prece”.
5. Sinta. Você compartilha sua energia informativa e memórias celulares com todos os sistemas no universo. Não se desligue do mundo à sua volta para sintonizar-se com seu coração. Em vez disso, fique profundamente atento e sinta com todos os seus sentidos sua ligação com as árvores, as flores, a água, ou qualquer outro sistema natural que o cerca.
6. Aprenda. A cardiocontemplação significa aprender com o coração e "de cor"-ação. Quando dizemos que aprendemos alguma coisa “de cor”, geralmente queremos dizer que aprendemo-la bem e de maneira duradoura. Enquanto está imóvel, anime-se, guarde silêncio, produza ressonância e sinta, fique atento ao que o seu coração está lhe dizendo sobre a vida, o amor e o trabalho. Tente armazenar suas lições como memórias celulares a serem utilizadas futuramente, nos momentos estressantes da vida.
7. Ligue-se. Tente transmitir as coisas aprendidas e a energia “V” equilibrada, alcançadas em estado cardiocontemplativo, ao mundo que o rodeia e fique receptivo à energia “V” que provém de outros corações. A cardiocontemplação é uma maneira profunda de tornar-se uma parte mais completa do mundo e de melhor ajudá-lo.
A fim de ajudar você a sobreviver, o cérebro talvez pense que não depende de ninguém no mundo, mas o coração sabe que nunca estamos realmente sós.
Para além da atenção que o coração a tudo dá, é provável que você esteja incessantemente mergulhado na energia “V” que emana de seu próprio coração como uma mensagem transmitida por todos os corações à sua volta. As pesquisas mostram que também é provável que outros corações estejam nos enviando energia informativa neste exato momento e que podemos nos tornar mais conscientes desse nível de interdependência de energia “V”.
Fonte: Memória das Células - A Sabedoria e o Poder da Energia do Coração, Paul Pearsall, Ph.D., Ed. Mercuryo, 1999, São Paulo, SP. Págs.: 219-236
Estabelecendo contato com seu coração
“A verdadeira viagem de descobrimentos
consiste não em procurar novas terras,
mas em ver com novos olhos.”
- MARCEL PROUST
SUA CABEÇA OU SEU CORAÇÃO?
Se as pessoas que o conhecem melhor tivessem de escolher diriam que você é “mais cabeça” ou “mais coração”? Descreveriam você como alguém que toma decisões baseado quase exclusivamente em considerações racionais e analíticas das questões em discussão ou como alguém que propende mais para a intuição e o instinto? Embora a qualidade e a extensão de nossa vida exijam que aprendamos a empregar construtivamente o potencial do cérebro em atitudes lógicas, poderemos também aprender a compartilhar uma vida saudável, menos estressada e mais afetiva estabelecendo contato com o código do coração e compreendendo que, além da metáfora, o coração pode ter sua maneira singular de pensar e sentir, não menos importante que a maneira do cérebro de lidar com o mundo.
Já lemos que um cérebro não refreado pelo coração pode compor uma aliança devastadora com seu corpo. No cumprimento de seu imperativo evolutivo de auto desenvolvimento e autopreservação, ele pode negligenciar a necessidade espiritual de conscientizar-se da mais sutil informação que exprime a razão de a alma manifestar-se fisicamente e de suas necessidades dentro dessa manifestação. Este capítulo discute algumas possíveis maneiras de o indivíduo tornar-se mais cardiossensível e de ajudar o cérebro a desenvolver maior consciência da disponibilidade de um parceiro que pensa de uma maneira diferente da dele e com o qual ele pode ser mais criativo e unido, e ser capaz de acalmar sua supervisão do corpo através da vivência cotidiana.
LIÇÕES ENSINADAS POR CARDIOSSENSÍVEIS
Venho empregando o termo cardiossensíveis para descrever a porcentagem relativamente pequena de pessoas de minha amostra de setenta e três receptores de transplante cardíaco que parecem ser capazes de estabelecer contato com a sutil energia “V” ou energia informativa da vida, que pode ser o código que o coração emprega em sua maneira singular de pensar e sentir. Embora quase todos os setenta e três pacientes tenham relatado algum tipo de associação com a energia de seu doador, cerca de dez por cento revelaram-se especialmente cardiossensíveis. Embora este grupo constitua os superstars entre os cardiossensíveis, cada paciente que entrevistei apresentou algum sinal de mudanças pessoais singulares relacionadas com seu coração novo. Além das histórias de meus pacientes, tenho apresentado também casos de pacientes de outros pesquisadores e clínicos, e de transplantados cardíacos que conheci no decorrer de minhas muitas palestras sobre energia “V” e memórias celulares e que também parecem estar singularmente adaptados ao seu novo coração. Algumas das características dessas pessoas cardiossensíveis foram apresentadas no capítulo 4. Notei, todavia, que não foram apenas esses pacientes muito especiais que revelaram cardiossensibilidade, mas também alguns membros de suas famílias e das famílias dos doadores. Percebi também que essas pessoas pareciam apresentar algumas das características dos perceptivos e operadores do PEAR, os quais, de acordo com os dados dos 50 milhões de tentativas experimentais de Princeton, que contêm mais de 3 bilhões de bits de informação, pareciam sensíveis à sutil mas significativa equivalência de energia e informação que chamo de código do coração. De acordo com o teor desses relatórios, parecia estar ocorrendo o surgimento de, pelo menos, uma lista preliminar e experimental de alguns traços de um indivíduo cardiossensível.
Para facilitar a discussão da cardiossensibilidade e do processo de travar contato informativo com o coração, reuni as averiguações preliminares sobre a energia “V”, o coração sensitivo, e memórias celulares a fim de elaborar um teste que pudesse servir de ponto de partida para estudos adicionais. Com o auxílio de muitos de meus pacientes de transplante cardíaco e de pessoas que meus pacientes e outros identificaram como sendo “mais coração que cabeça”, desenvolvi a Cardio-Sensitivity Inventory (CSI) [Lista dos Traços de Personalidade, Aptidões, Atitudes, etc. Relativas à Cardiossensibilidade]. Essa lista não representa uma mensuração direta da energia “V” ou graduação de qualquer habilidade especial. É uma tentativa preliminar de começar a compreender um pouco mais a natureza daqueles que parecem estar familiarizados com a linguagem de seu coração. Já usei o CSI com pacientes, enfermeiras, médicos residentes e outros profissionais da área de saúde como um ponto de partida para discussões sobre possíveis maneiras pelas quais o coração pode estar transmitindo, pelo menos, tanto informação espiritual quanto nutrição bioquímica.Segue-se abaixo uma reprodução do CSI. Cada um dos cinqüenta itens provém de minhas entrevistas com cardiossensíveis, na medida em que pareciam refletir, de maneiras diversas, alguns dos componentes associados à cardiossensibilidade. Cada item está enunciado nas palavras empregadas pelos entrevistados, palavras indicativas de setores que estes consideravam dignos de estudo. Não há qualquer implicação de que uma das respostas seja a resposta correta ou a melhor delas. Além disso, com a finalidade exclusiva de gerar debates, estipulei um sistema de pontuação bastante rudimentar.
Lista dos Traços de Personalidade, Aptidões,
Atitudes, etc. Relativas à Cardiossensibilidade (CSI)
Dr. Paul Pearsall, Ho'ala Hou, Inc., 1997
Use a escala que se segue para responder às perguntas abaixo. Selecione o número negativo ou positivo da escala que mais aproximadamente representa o ponto em que você se encontra em relação a cada item.
Quase Nunca 50% das Vezes Quase Sempre
-5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5
___1. Acho que posso influir no que acontece às pessoas e às coisas simplesmente pela maneira como penso nelas e o que penso delas.
___2. Acho que os objetos mecânicos podem ficar “de mau humor”, de forma que falo afável e delicadamente com meu computador e outras máquinas a fim de tentar persuadi-los a funcionarem melhor.
___3. Tenho um “sexto sentido” muito forte e acho que sou “paranormal”.
___4. Posso garantir o que uma pessoa vai dizer antes que ela abra a boca.
___5. Sou muito sugestionável, “concordo com os outros” facilmente, e provavelmente poderia ser hipnotizado com muita facilidade.
___6. As pessoas diriam que tenho uma tendência para ter aquilo que a sociedade geralmente percebe como um “lado feminino” muito forte.
___7. Sigo minha “coragem” e não “os fatos”.
___8. Acredito que as pessoas e as coisas emitem “vibrações”, ou energia invisível.
___9. Tenho um ótimo sentido de intuição e confio nele.
___10. Rio com facilidade e freqüentemente.
___11. Choro facilmente, na intimidade ou em público.
___12. Sou um “sonhador” que passa muito tempo recusando-se propositadamente a “enfrentar a realidade”.
___13. Não sou competitivo e prefiro “simplesmente jogar” a “vencer”.
___14. As pessoas diriam que sou um “indivíduo muito necessitado”.
___15. Emprego muito mais a palavra “nós” do que “eu”.
___16. Tenho interesse, gosto de ler e de falar sobre coisas espirituais e os aspectos da vida que não podem ser vistos ou tocados.
___17. Aqueles que me conhecem bem diriam que pareço um tanto esquisito e muito diferente da maioria das pessoas que eles conhecem.
___18. Mesmo com relação a coisas simples e pequenas, é-me extremamente difícil tomar uma decisão.
___19. Tenho certeza absoluta de que há vida em outros planetas.
___20. Acredito que “coincidências” não existem e que tudo acontece devido a uma razão predestinada que não conseguimos entender.
___21. Gosto de tocar, segurar e abraçar.
___22. Quando a música começa sou o primeiro que se apresenta para dançar.
___23. Sou muito habilidoso com as mãos e gosto de fazer coisas como pintar, esculpir e trabalhar como carpinteiro.
___24. Acho que se pode confiar nas pessoas e que elas de maneira alguma são propensas a tirar proveito do próximo.
___25. Posso ver e sentir energia fluindo entre pessoas e coisas.
___26. Sou capaz de dizer o que está fazendo e o que está sentindo alguém com quem me preocupo e exatamente onde está esse alguém mesmo quando não está comigo.
___27. Acredito em amor à primeira vista.
___28. Perturbo-me com facilidade.
___29. Adoro cantar ou cantarolar acompanhando música clássica.
___30. Dizem que sou muito inocente e ingênuo.
___31. Prefiro escrever à mão a datilografar ou trabalhar com um computador e escrevo coisas como poesia, canções ou cartas todas as semanas.
___32. Fico contrariado com grande facilidade.
___33. Tenho flashbacks e, às vezes, tenho a impressão de ficar extasiado.
___34. Dizem que mudo de idéia constantemente.
___35. Animais de todas as espécies são atraídos por mim instantaneamente.
___36. As crianças me adoram.
___37.Tenho “boa mão” para o cultivo de plantas e muito boa sorte com estas e com flores.
___38. Falo com minhas plantas para ajuda-Ias a crescer.
___39. Tenho sonhos muito intensos, minuciosos e longos.
___40. Adoro compartilhar e interpretar meus sonhos.
___41. Tenho uma memória perfeita não só de minha vida mas também da vida dos outros.
___42. As pessoas diriam que sou um excelente ouvinte.
___43. Aqueles que melhor me conhecem diriam que não sou de modo algum dominador ou mandão e que sou um ótimo seguidor.
___44. Tenho muitas lembranças tristes que nunca me deixam.
___45. Às vezes, sem nenhum motivo, sinto-me muito deprimido.
___46. Conscientizo-me instantaneamente da “sensação” produzida por um quarto ou uma casa.
___47. Meus sentidos de paladar, olfato e audição são muito aguçados e precisos.
___48. Acredito em alguma forma de reencarnação.
___49. Creio no poder da criação.
___50. Falo em voz alta com alguém que morreu.
COMO INTERPRETAR A CONTAGEM DE SEU TESTE CSI
____ 1. Some o valor total de seus pontos “+” acima de “0”.
____ 2. Some o valor total de seus pontos “-” abaixo de “0”.
TOTAL DE PONTOS “+” MENOS TOTAL DE PONTOS “-” = CONTAGEM CSI
De acordo com minhas entrevistas e as pesquisas relatadas na Parte I deste livro, conclui-se que as pessoas que marcaram acima de 0 mas abaixo de 100 foram aquelas que pareceram ser mais cardiossensíveis. Não eram significativamente preconceituosas em relação aos popularmente denominados “fenômenos psíquicos” e mantinham-se realisticamente abertas em sua disposição de lidar com possibilidades tais como conexão de energias, memórias celulares e um código do coração. Seus relatos de conexões de energia tendiam a ser corroborados por membros da família e, no caso de meus pacientes de transplantes cardíacos, havia a colaboração dos membros da família do doador.
As pessoas que haviam marcado acima de 100 eram mais suscetíveis de relatar formas várias daquilo que, segundo diziam, eram conexões “parapsíquicas” de forte energia ou experiências em suas vidas, ou ainda, no caso de receptores de transplantes, logo após o recebimento do novo coração - experiências menos comprováveis. Diferentemente das pessoas do grupo 0 a 100, que freqüentemente relutavam em falar sobre suas experiências com a energia “V”, o grupo dos que marcaram acima de 100 falava aberta e facilmente de suas experiências e amiúde as atribuía a uma nova filosofia de vida que tinham construído ou adotado após essas experiências. No outro grupo não se observaram quaisquer mudanças de enfoques filosóficos ou psicológicos sobre a vida.
As pessoas cujas respostas se concentraram mais nos aspectos negativos tendiam a rejeitar quase qualquer possibilidade da existência da energia “V” e freqüentemente demonstravam raiva com relação àquelas que relatavam conexões energéticas. Como seria de esperar, observei em minhas entrevistas que quanto mais negativo o resultado do teste, maior o volume de ira, recusa e escárnio da possibilidade de existência de uma energia “vital.”
De acordo com o que aprendi com os cardiossensíveis, parece existir um processo que facilita um nível intensificado de percepção da informação que acompanha a energia, a qual é transplantada com novas células em um transplante de órgão ou, talvez, menos profundamente, mas não menos significativamente, em qualquer indivíduo, é proveniente de todas as pessoas, lugares e coisas. Este processo poderia ser denominado “cardiocontemplação”, pois acalma o coração e aquieta o cérebro suficientemente para que este se torne mais alerta aos sinais que podem estar provindo do coração.
CARDIOCONTEMPLAÇÃO
A palavra “contemplação” deriva do grego tempo que significa qualquer coisa demarcada, como uma estação do ano, período ou tempo. A palavra latina templum também provém do grego tempo e refere-se a um lugar aonde as pessoas iam para dar atenção aos presságios. Quando os gregos ou os romanos estavam no interior de seu templum, contemplavam, ponderavam e deliberavam em conjunto. “Con” significa em conjunto ou com outros, de forma que “cardiocontemplação” significa o ato de ponderar com nosso coração sobre nosso vínculo com o mundo e a significação deste. Ponderar, aqui, é um processo menos mental que espiritual. A cardiocontemplação significa estar em um estado que permita a alguém estar mais apto a extrair informação sobre a alma, a partir da energia que provém do coração. É estar mais sensível à energia sutil da vida e experimentá-la como algo que diz respeito a “nós” e não a “mim”. Parece ser uma maneira de “ser” mais do que uma maneira de fazer algo e, à semelhança do que aconteceu com os operadores do PEAR, significa estar acessível à possibilidade de estabelecer conexão com a energia sutil em vez de esforçar-se para fazer as coisas acontecerem.
Um menino de oito anos de idade que havia recebido um coração novo descreveu a natureza da cardiossensibilidade e da cardiocontemplação como uma coisa que ocorre e não como algo que se conquista. Disse ele: “Posso sentir o outro menino dentro de mim. Quando minha imunidade subiu e finalmente me deixaram brincar com Pierre [o cachorrinho poodle francês da família] novamente, comecei a chamá-lo de King. Não sei por quê. Talvez o cão de meu doador se chamasse King. De qualquer maneira, agora posso sentir o outro menino comigo. É como quando você bate o joelho e não sabe, e quando se senta para assistir televisão ou fazer qualquer coisa e você vê o machucado, aí começa a sentir e não esquece mais. Mesmo depois que melhora e a casca da ferida cai, sua perna sempre se lembra de onde estava o ferimento”.
UMA JANELA PARA O INCONSCIENTE COLETIVO
A cardiocontemplação pode ser vista como uma das maneiras de estabelecer conexão com aquilo que alguns psicólogos, mais particularmente Carl Jung, denominaram inconsciente coletivo. Em certo nível energético sutil, toda a informação acumulada por aqueles que nos precederam pode ainda ser universalmente representada no sistema de memória de cada célula de nosso corpo. Dispor-se a tornar o cérebro menos vigilante e ficar mais alerta à energia informativa sutil que repercute cada batida do coração pode ser algo semelhante a sintonizar um aparelho de rádio na estação que transmite o programa de nossa memória celular coletiva.
A cardiocontemplação pode ser um processo que nos permite estabelecer contato com nossa alma através de ligação com sua energia espiritual. Pode ser uma maneira de recordar nosso paraíso infantil, propiciando um relance espiritual de como eram as coisas antes de o cérebro assumir a tutela. Pode ser uma maneira de encontrarmos nosso caminho de volta para a forma de como as coisas deveriam ser em vez de cedermos às exigências que o mundo do cérebro parece incessantemente colocar sobre nós. Pode ser uma maneira de estabelecer uma conexão de energia com o sistema de energia informativa que sempre nos rodeia. Pode ser uma maneira de aprender, comunicar e unir a experiência física da personalidade de um indivíduo ao conhecimento que existe dentro da estrutura vibratória da Mente, formada de cérebro, coração e corpo - nossa consciência compartilhada.
Sob certos aspectos, a cardiocontemplação é semelhante à meditação, mas é singular na ênfase que dá ao coração. É um processo combinatório, coletivo e conectivo que nos permite sintonizar a memória da sensação que constitui o fato de termos paixão por estarmos vivos. Assim como os pacientes cardiossensíveis de transplante de coração são fisiologicamente forçados a reconhecer sua conexão com a energia que compartilham com outra pessoa, qualquer um de nós poderia ser capaz de dar plena liberdade ao nosso “observador oculto”, aquela parte de nós que permanece atenta e sensível à emoção de viver, mesmo quando o cérebro está atarefado e aturdido no esforço de nos ajudar a ganhar a vida.
CAMINHOS DA VONTADE
Para compreender o processo da cardiocontemplação é necessário compará-lo com os processos mais conhecidos de iluminação ou de percepção, tais como as técnicas de meditação, visualização e de imagens mentais. O processo de meditação geralmente refere-se a um grupo de técnicas que induz um estado alterado de concentração da atenção e percepção intensificada. Praticamente todas as tradições espirituais e religiosas incluem alguma forma de meditação, e a pesquisa mostra que estados de meditação tendem a produzir mudanças físicas positivas no corpo inteiro, até mesmo respiração e pulsação mais lentas, pressão sangüínea mais baixa e relaxamento dos músculos tensos.
Embora a meditação seja um processo complexo, divide-se geralmente em duas partes - técnicas de concentração e abertura.
Para se alcançarem estados de consciência alterados, essas duas eficientes abordagens tendem a apoiar-se, até certo ponto, principalmente na maneira de agir da cabeça ao invés da do coração. As técnicas de concentração utilizam a convergência da atenção e da percepção na respiração, numa palavra ou numa frase. Enquanto a pessoa respira profundamente, pode repetir mentalmente um número, uma palavra (mantra) ou frase religiosa. As técnicas de abertura realçam a percepção do momento presente, isenta de julgamento e avaliação. Em vez de se concentrar num objeto, som, atividade ou imagem, o meditador fixa a atenção no aqui-e-agora, deixando que quaisquer pensamentos perturbadores se dispersem, como nuvens no céu, sem levá-los em consideração. Ambas as técnicas são essencialmente meios de substituir sensação por significação e, cada uma à sua maneira, pode ser um meio através do qual a energia “V” poderá ser experimentada.
Existem duas derivações da meditação, estreitamente relacionadas, freqüentemente empregadas na cura holística. Visualização é o processo que tenta ensinar o corpo a efetuar diretamente a cura pela imaginação, ou pela visualização de imagens especialmente escolhidas, tais como artérias obstruídas recebendo uma limpeza com escovas, ou células cancerosas sendo devoradas por tubarões. A técnica das imagens mentais é menos uma tentativa de “perceber” que de experimentar e criar pensamentos, e gerar sensações de ardor, afeição e amor. A visualização procura ver uma maneira de ser sadio, ao passo que o processo das imagens mentais é uma tentativa de união com a sensação de estar sadio. Estes dois enfoques pressupõem grande esforço mental ou “do cérebro”.
A técnica de relaxamento, conforme a propôs inicialmente o dr. Herbert Benson é uma maneira de tirar a atenção dos pensamentos aflitivos ficando atento à respiração e pronunciando uma palavra destituída de emoção, como o número um, por exemplo. É uma reação natural do corpo e do sistema nervoso, que, como a meditação, é uma forma daquilo que o escritor Spencer Holst denomina “silêncio magnífico”. A cardiocontemplação pode ser considerada como algo que ocupa a atenção de outra de nossas reações naturais - nossa “reação de ressonância”. Faz pausas silenciosas e vibra com toda a energia, sentimentos e sensações do momento, num estado descrito no Institute of HeartMath como “paz amplificada”.
A cardiocontemplação não é simplesmente administração do tempo ou redução de energia. É semelhante àquilo que o escritor Stephen Rechtschaffen chama de “deslocamento de tempo”. Significa permitir que nosso coração permaneça aberto à sua ressonância natural com todas as energias do momento presente e, desse modo, expandir-se, imobilizar-se ou fazer uma pausa espiritual, a fim de permitir que o eu fique totalmente imerso no momento quântico presente. O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi aludiu a um estado semelhante que denominou “fluxo”, o qual significa ficar tão completamente absorto naquilo que se está fazendo que todo sentido de tempo, espaço e individualidade parece desaparecer. O pianista Arthur Rubinstein descreveu o poder dessas pausas momentâneas e que o tempo não afeta (atemporais) quando disse: “As notas, toco-as como qualquer outro pianista. Mas as pausas, ah, as pausas.”
A cardiocontemplação abrange aspectos de todas as abordagens acima mas difere delas de três maneiras. Tende a ser experimentada como menos pessoal e mais conectiva, mais rítmica energeticamente do que concentrada na mente e estática, e mais atenta e receptiva aos sinais do corpo ao invés de alheia a eles. É menos visualizar uma cena do que lembrar-se de como tomar parte da energia da cena atual. Na cardiocontemplação a pessoa sintoniza as delicadas “sensações” energético-informativas que parecem provir do coração, ao invés de uma palavra, som, respiração ou imagem que pode ser experimentada como algo que se origina de uma consciência em alguma parte do cérebro.
ATRAVÉS DO CORAÇÃO
O psicólogo Alan D. Watkins diferencia aquilo que denomina “técnicas de intencionalidade conscientes”, tais como meditação, imagens mentais, visualização, técnica de relaxamento e afirmações positivas, do processo de deslocar intencionalmente a atenção emocional para um estado positivo concentrando-a no coração e tentando profunda e sinceramente experimentar novamente sentimentos passados de desvelo e apreciação ali armazenados. Ele não rejeita o valor da meditação e de outras técnicas quando comparadas com a abordagem centrada no coração que chamo de cardiocontemplação, mas faz distinção entre o caráter cerebral da intencionalidade consciente (os caminhos da vontade) e a natureza das “emoções” (cardiossensibilidade). Ele estabelece uma distinção “entre os efeitos fisiológicos das técnicas mentais e conscientes e os das técnicas emocionais centradas no coração”.
Os psicólogos empregam a palavra “metadisposição” para aludirem a um estado de percepção das próprias emoções do indivíduo. A cardiocontemplação é um sistema para desenvolver esse estado de percepção não pela via do intelecto, mas pela concentração emocional no centro de energia do corpo - o coração. Assim como o cérebro está para a inteligência intelectual, o coração está para a inteligência emocional.
DEMONSTRANDO COERÊNCIA CARDíACA
Ao estudarem a meditação e os outros estados descritos acima, os pesquisadores com freqüência percebem mudanças nas ondas cerebrais que indicam um estado mais descontraído. Quase a mesma coisa acontece com um coração que está no processo de cardiocontemplação. Um trabalho precursor sobre o estado denominado “coerência cardíaca”, o qual é alcançado através da cardiocontemplação, foi realizado no Institute of HeartMath, em Boulder Creek, na Califórnia, a associação educacional sem fins lucrativos mencionada anteriormente neste livro, cujo lema é “devolvendo o coração às pessoas”. Esse trabalho mostra que a coerência cardíaca é um estado equilibrado, jubiloso e estável da energia do coração induzido pela cardiocontemplação e um processo semelhante ao qual o pessoal do Institute of HeartMath chama de “Técnica de Congelamento da Imagem”. Este processo pesquisado pelo HeartMath Institute implica o reconhecimento da existência de um sentimento estressante específico que exige um esforço mental para deslocar a atenção para sensações que provêm da área do coração em vez da do cérebro. Relembra-se um acontecimento muito positivo do passado e solicita-se mentalmente ao coração que, através de seus insights, mostre qual poderia ser uma boa maneira de lidar com a situação estressante, maneira que poderia induzir um estado parecido com aquele do acontecimento positivo do passado. Como se o coração tivesse contratado os serviços de sua reação de ressonância natural, esta é traduzida em eletrocardiogramas como um suave conjunto de curvas moderadas que revelam os ritmos cardíacos batimento-a-batimento e os intervalos entre batimentos. A “incoerência” cardíaca é revelada pela inconsistência do ritmo do coração que aparece na forma de linhas serrilhadas agudas no eletrocardiograma.
Você já terá experimentado esse estado de cardiocoerência em sua vida, ou provavelmente não estaria vivo e lendo este livro. Lembre-se de uma ocasião na qual você teve a impressão de que o tempo havia parado. Lembre-se de uma ocasião na qual, sem qualquer esforço de sua parte, você teve a impressão de entrar em perfeita sincronização com o mundo à sua volta como se estivesse vibrando com ele e sentindo sua energia. Talvez você não estivesse meditando nem tentando praticar a cardiocontemplação. Em vez disso poderia estar tricotando, ou fazendo uma grinalda, ou uma mesa nova, ou até tomando iogurte de baunilha, mas pelo menos durante um momento você perdeu todo sentido de individualidade e foi “arrastado” ou foi colocado em sincronismo não com a velocidade da vida moderna, mas com as energias naturais, brandas e oscilantes da natureza. Em ocasiões como essa, você pode ter contatado o mundo com seu coração. As pesquisas realizadas no HeartMath Institute parecem constatar muitas das hipóteses da cardiologia da energia e da cardioenergética. E também comprovam que sentimentos de afeição, apreço e desvelo e o estabelecimento de pausas para entrar em contato com o mundo têm relação com funções cardiovasculares mais saudáveis. Os pesquisadores do Institute também documentaram o fato de que a coerência cardíaca, isto é, um coração jubiloso e tranqüilo, aumenta a imunidade e intensifica o processo de cura ao criar um equilíbrio sincronizado simpático-vagal ou neuro-hormonal que libera os instintos curativos naturais do corpo para produzir seus milagres. Leremos mais sobre isso no capítulo 11.
Empreguei minha própria versão da Técnica de Congelamento da Imagem de cardiocontemplação durante mais de vinte e cinco anos com meus pacientes no Hospital Sinai, em Detroit Assim como na Técnica de Congelamento da Imagem, eu solicitava aos meus pacientes que tentassem experimentar emocionalmente sensações provenientes do coração em vez de tentar relembrar mentalmente uma imagem visual de uma experiência positiva ocorrida no passado. Pedia-lhes que tentassem estabelecer distinção entre aquilo que o psicólogo Richard Rechtschaffen denomina tempo “mental” ou do cérebro e tempo “emocional” ou do coração. Para explicar essa diferença, o dr. Rechtschaffen pede aos seus pacientes que primeiramente pensem num balão vermelho. Geralmente eles não encontram dificuldade nisso. Depois lhes pede que se sintam muito tristes ou muito felizes. Os pacientes geralmente relatam que isto não é tão fácil porque “sentir leva tempo”. A cardiocontemplação pressupõe ausência de pressa, é empregar o tempo que for necessário para deixar o coração sentir-se livre das pressões mentais de um cérebro “arrastado”, ou sincronizado mais com bips e ruídos eletrônicos do que com o gorjeio dos pássaros e o farfalhar das árvores.
A cardiocontemplação não é “pensar” sobre uma maneira nova de lidar com o estresse. Não pretende reduzir o estresse mas sim transformá-lo, gerando um estado de ressonância com o mundo natural e outros corações, de maneira que o estresse tenha menor domínio sobre a Mente, composta de cérebro, coração e Corpo. É um estado no qual as memórias celulares ficam mais desimpedidas para surgir, e quando o fazem, segundo minha pesquisa indica, seu aparecimento é comunicado pelo rompimento do pacto devastador cérebro/corpo, do que resultam pressão sangüínea reduzida, músculos relaxados, respiração mais profunda e um traçado lento, normal e firme das pulsações cardíacas no eletrocardiógrafo, semelhantes às relatadas pelo HeartMath Institute.
As duas últimas etapas no processo de cardiocontemplação consistem em tentar empregar o coração não apenas para recuperar memórias de estados tranqüilos do passado, mas também para armazenar as memórias do momento presente contemplativo e jubiloso como memórias celulares, e depois tentar transmitir a energia “V” equilibrada para todos e tudo à nossa volta.
Resumindo o valor da coerência cardíaca, o pesquisador Rollin McCraty escreve: “Podemos gerar intencionalmente a coerência cardíaca. Isto promove a lucidez da mente enquanto o 'som branco' da atividade elétrica incoerente e aferente (a disrupção energética que provém de um cérebro estressado) se reduz”. É a isto que chamo de cardiocontemplação, aprender a dar atenção ao coração, ajudá-lo a acalmar-se, relacionar-se com ele como um professor e fazer o cérebro calar-se o tempo suficiente para deixar o coração cantar. É uma maneira de evitar a crise identificada por Oliver Wendell Holmes quando escreveu: “Ai daqueles que nunca cantam e morrem com toda sua música dentro de si”.
SETE HÁBITOS PARA OUVIR O CORAÇÃO
Pierre Teilhard de Chardin escreveu: “Os males de que estamos sofrendo tiveram sua base na própria criação do pensamento humano”. As palavras dele refletem os perigos de um mundo dominado por um cérebro insensível que parece dizer “Eu sou tudo”, enquanto o coração, freqüentemente menosprezado, diz: “Sem todos os outros não sou nada”. As sete orientações da cardiocontemplação comentadas abaixo são maneiras através das quais poderemos fazer com que a Mente, constituída de cérebro, coração e corpo, nos auxilie a propiciar a significação e o equilíbrio para o trabalho do cérebro. Assim fazendo poderemos estar mais aptos a seguir a sugestão de Thoreau: “Se construístes castelos no ar, não há razão para julgardes perdido vosso trabalho. Colocai agora o alicerce sob eles”.
Como um sumário do processo de sintonização do código do coração e das memórias que ele transmite, segue-se uma recapitulação de algumas das sugestões feitas neste livro sobre a cardiocontemplação e o contato com o código do coração.
1. Aquiete-se. Para entrar em sintonia com o coração é necessário diminuir o ritmo da vida diária, sentar-se e acalmar-se. Você não precisa assumir qualquer posição corporal específica, mas é necessário ficar suficientemente tranqüilo e silencioso para se conscientizar plenamente do momento presente, em vez de preparar-se para o momento seguinte ou preocupar-se com um momento passado não aproveitado. Mestre Eckhart, místico cristão do século 13, disse: “Em toda a criação não há nada que se assemelhe tanto a Deus como o silêncio”. Fique imóvel, pare de pensar, não recorra a nenhuma tática ou técnica especial. Basta ficar imóvel durante alguns instantes. Uma maneira de conseguir fazer isto é respirar profundamente e suspirar.
2. Não leve as coisas tão a sério. Alguém disse uma vez que a pessoa comum não se julga assim. Não se leve tão a sério. Você está longe de ser tão poderoso ou de estar no controle das coisas como seu cérebro acha que está ou tem de estar. A maioria dos problemas, realizações e preocupações que experimentamos em determinados momentos é transitória e tem pouquíssima relevância no plano geral da nossa vida. Um coração pode tornar-se abatido tanto espiritualmente quanto em termos das mudanças fisiológicas que normalmente acompanham os encargos de um cérebro inexorável. Não nos esqueçamos da perspicácia do escritor inglês G. K. Chesterton: “Os anjos voam porque dão a si mesmos uma leve importância”.
3. Cale-se. Pare de falar, não fale nem mesmo com você. É uma resolução muito difícil, pois o cérebro está sempre tagarelando sobre suas quatro atitudes básicas: alimento (como conseguir mais comida), luta (como proteger seu território), fuga (como se deslocar para outro lugar) e sexo (como obter prazer físico intenso e imediato). Experimente não dar atenção ao seu cérebro por um certo espaço de tempo e deixe-o falando consigo. Tente deixar seu “observador oculto”, aquela parte de você que está sempre alerta até mesmo quando o cérebro está em repouso, ficar de olho nas coisas enquanto você descansa. Agir menos e falar menos é geralmente bom para a saúde mental, espiritual e física. Siga o conselho de Oscar Wilde: “Não falo com Deus para não entediá-lo”.
4. Produza ressonância. A cardiocontemplação é uma forma de prece receptiva. Não significa pedir algo a um Poder Superior ou conversar com esse Poder, mas prestar atenção à força que existe no interior do coração, pois este tem profunda percepção da união do indivíduo com o Criador. Escreve o médico Larry Dossey: “Em sua forma mais simples, a prece é uma atitude do coração - uma questão de ser, não de agir. A prece é o desejo de unir-se ao Absoluto, seja este concebido como for. Quando experimentamos a necessidade de estabelecer essa união, estamos fazendo uma prece”.
5. Sinta. Você compartilha sua energia informativa e memórias celulares com todos os sistemas no universo. Não se desligue do mundo à sua volta para sintonizar-se com seu coração. Em vez disso, fique profundamente atento e sinta com todos os seus sentidos sua ligação com as árvores, as flores, a água, ou qualquer outro sistema natural que o cerca.
6. Aprenda. A cardiocontemplação significa aprender com o coração e "de cor"-ação. Quando dizemos que aprendemos alguma coisa “de cor”, geralmente queremos dizer que aprendemo-la bem e de maneira duradoura. Enquanto está imóvel, anime-se, guarde silêncio, produza ressonância e sinta, fique atento ao que o seu coração está lhe dizendo sobre a vida, o amor e o trabalho. Tente armazenar suas lições como memórias celulares a serem utilizadas futuramente, nos momentos estressantes da vida.
7. Ligue-se. Tente transmitir as coisas aprendidas e a energia “V” equilibrada, alcançadas em estado cardiocontemplativo, ao mundo que o rodeia e fique receptivo à energia “V” que provém de outros corações. A cardiocontemplação é uma maneira profunda de tornar-se uma parte mais completa do mundo e de melhor ajudá-lo.
A fim de ajudar você a sobreviver, o cérebro talvez pense que não depende de ninguém no mundo, mas o coração sabe que nunca estamos realmente sós.
Para além da atenção que o coração a tudo dá, é provável que você esteja incessantemente mergulhado na energia “V” que emana de seu próprio coração como uma mensagem transmitida por todos os corações à sua volta. As pesquisas mostram que também é provável que outros corações estejam nos enviando energia informativa neste exato momento e que podemos nos tornar mais conscientes desse nível de interdependência de energia “V”.
Fonte: Memória das Células - A Sabedoria e o Poder da Energia do Coração, Paul Pearsall, Ph.D., Ed. Mercuryo, 1999, São Paulo, SP. Págs.: 219-236