segunda-feira, 15 de julho de 2013

CABOCLOS

CABOCLOS

Por Carlos Eduardo Thomáz (Cadu) – Primeiro Cambono
Senhores dos caminhos, onde um caboclo pisa um caminho é aberto.
Quando um caboclo chamado Sete Encruzilhadas “pisou” num centro de mesa branca ele abriu o caminho para Umbanda.
A linha de Caboclos , composta por caboclos e caboclas, faz parte, junto com a Linha de Pretos Velhos e Erês, do tripé da Umbanda; a criança, o guerreiro e o ancião, presente em tantas culturas.
São comumente identificados com Oxóssi por ser um Orixá das matas, mas existem caboclos das diversas linhas de orixás. Seu Pena Branca, mentor espiritual da Casa de São Lázaro é um caboclo de Oxalá.
Há também caboclos e caboclas d’água que trazem muito da energia de Iemanjá e Oxum. Na casa de São Lázaro a Cabocla Jacira comanda este grupo.
Identificados com os índios e índias, são os guerreiros que quando chegam no terreiro com seus gritos, trazem sua força que impulsiona e contagia a todos. Possuem a sabedoria do convívio com a natureza, do trato com as ervas e de formas xamanicas de cura, além de serem disciplinadores. Muitas vezes se utilizam de charutos para limpeza, mas estes são usados mais por conta da erva de que é feito o charuto, do que para fumar propriamente.
Os caboclos fazem curas, abertura de caminhos, quebra de demandas e desobsessões. Utilizam como instrumentos de trabalho, elementos da natureza, charutos, cachimbos, pinga, cuias feitas de cabaça, ervas, flores, frutas, sementes, pemba, velas verdes e brancas, maracas e tambores.
  • Caboclos – Pena Branca, Pena Azul, Pena Dourada, Pena Roxa, Sete Flechas, Tupinambá, Urubatão só para citar alguns.
  • Caboclas – Jacira, Janaína, Jupira, Jurema, Lua Branca só para citar algumas.
  • Oferendas de Caboclo: Espigas de milho, frutas e flores.
  • Ponto de força: Florestas e Matas
  • Salve Caboclo, Okê Caboclo.
Relato sobre o Caboclo Pena Branca
Em 1929, o poderoso cacique Pena Branca, líder dos índios Yaki, do México, liderou uma revolta contra a opressão e a injustiça que vitimavam seu povo. Desde este momento, nas terras americanas, o mito dessa grande entidade nasceu.
Pena Branca é hoje símbolo de liberdade, autenticidade e fraternidade.
Certa vez perguntei ao irmão Salinas, curandeiro e médium de uma tradição espiritualista mexicana, quais as principais entidades que incorporavam em seu templo. O primeiro nome que ouvi foi: Pena Branca.
Em seguida, comentei que no Brasil, também incorporava um índio do mesmo nome. Ele não se surpreendeu e disse que outros “Penas” também frequentavam sua sessão de cura, nada impedindo que fossem as mesmas entidades.
Longe dali, no Caribe, existe uma religião chamada de Vinte e Uma Divisões ou Vinte e Uma Linhas, que é parecida com a nossa amada Umbanda. Nos terreiros desse culto, trabalham destemidos espíritos de Índios, Pretos Velhos, Exús (ali chamados de Candelos) e outros espíritos familiares. Na linha de índio bravo, uma das Vinte e Uma Linhas, encontramos também o nosso velho amigo Pena Branca!
Aí ele baixa, firme e elegante, dando brados e vivas imponentes. Com ele, também incorporam Águia Branca, Índio da Paz e outros “Penas”: Pena Azul, Pena Negra, Pena Dourada, etc. Nos Estados sulistas dos Estados Unidos. existem algumas igrejas espíritas… Coisa bem diferente, pois por fora parece um templo evangélico e por dentro um terreiro. Os pastores são médiuns e bem íntimos com as manifestações do mundo invisível.
O espírito principal que chefia essas igrejas, as vezes chamadas de: “Igrejas Espiritualistas Africanas”, é o Chefe Índio Falcão Negro.
Quando o Chefe Falcão se manifesta, ele puxa outros companheiros das aldeias do astral, como Nuvem Vermelha, Àguia Negra (nomes de chefes indígenas que existiram) e entre eles está: Pena Branca. Algumas fraternidades esotéricas americanas, que cultuam os Mestres Ascencionados, com Saint German, El Morya, e outros bem conhecidos da Nova Era, conhecem um belo Mestre Curador: Ele aparece como um índio banhado em branca e luminosa luz, dando sábios conselhos e mensagens, seu nome: Pena Branca!
Em algumas ilhas do Caribe existe um culto chamado Obeah, de origem africana. Dentro dele são celebrados os mistérios dos espíritos de origem indígena taino, etnia local. Existem muitas entidades indígenas, a maioria com comportamento muito arredio e nomes de animais, Cobra Verde, Pantera Negra, Jaguar Dourado e etc.
Quando incorpora a falange do Povo Alado, simboliza pelos pássaros e morcegos, um deles tem um destaque especial. Este espírito se apresenta sério, compenetrado, usa tabaco fortíssimo e uma pena branca na cabeça, e é chamado Índio Pena Branca.
O encontramos novamente na Venezuela, onde existe um culto belíssimo, semelhante em tudo com a Umbanda. Tem Caboclo, Preto Velho, Exú, Orixás e tudo de bom. É a tradição de Maria Lionza, a Rainha Mãe da Natureza.
Na Linha Índia, comandada pelo famoso espírito do Cacique Gaicaipuro, incorporam centenas de caboclos venezuelanos e americanos. Eles trabalham com pemba, bebidas diversas, água, cocares, maracás e todo o aparato ameríndio. Chegam bradando e saudando o povo, que procura semanalmente os irmandades embusca de alívio, socorro material e espiritual.
Certo dia em Bonaire, uma ilhazinha perto da Venezuela, eu participava de um culto Lionza. Perto do congá estava um rapaz incorporando um caboclo. Atento, o índio ouvia pacientemente uma velha senhora e a limpava com um maço de ervas perfumadas. A senhora chorava muitoe tremia. No final da sessão, o semblante dela havia mudado. Feliz, ela sentou-se no banco da assistência e orava agradecida. Curioso, eu me aproximei e perguntei o nome da entidade que a atendeu. A velha irmã respondeu com reverência: O Grande Índio Pena Branca!
O tempo passou, e a pergunta ainda batia dentro da minha cabeça:
*Será que é o mesmo Pena Branca…
*Terá esse caboclo conhecido da Umbanda viajado tanto assim…
*Afinal, ele é mexicano, americano ou brasileiro…
*Quem, afinal, nasceu primeiro, o Pena Branca daqui ou o de lá…
Inquietações de um pesquisador, pois os afilhados e médiuns de Pena Branca não ficam, creio eu, tão preocupados com a sua origem.
Uma bela noite, em um modesto e tranquilo terreiro Umbandista do interior paulista, acontecia uma gira de caboclo. A líder do terreiro abriu o trabalho e incorporou. Seu Pena Branca estava em terra, em todo o seu esplendor e força. Fiquei atento. lembrei-me do Caribe e pensava em tudo isso que agora escrevo aqui. O Caboclo Pena Branca riscou seu ponto, pediu um charuto, deu algumas ordens ao cambono e olhou para onde eu estava. Senti uma estranha energia percorrer minha espinha. Ele continuou olhando e acenou. Me levantei e acenei de volta. Foi então que ele falou:
- Filho era eu, se lembra… tem um maço de ervas bem cheiroso para mim…
Texto de: Luiza Fernanda – de Caçapava – SP