quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Extensões dos nossos corpos Minha casa é minha pele. Assim como cuidamos da higiene pessoal, cuidamos da limpeza da casa.


Extensões dos nossos corpos

Minha casa é minha pele. Assim como cuidamos da higiene pessoal, cuidamos da limpeza da casa.
 QUE OS instrumentos usados por nós para criar, produzir e transformar são extensões de nosso corpo já é de conhecimento geral há mais de 50 anos – Marshall McLuhan o disse.
O Martelo é o prolongamento do nosso punho, o binóculo é nosso olho grande etc. Se os instrumentos são extensões de nosso corpo, a casa onde moramos também é.
Minha casa é minha pele, parede que me separa do exterior. Como a casa, o corpo tem dentro e fora: pele, carne e entranhas. Cabe a cada um cuidar do seu funcionamento e até auscutálo de vez em quando.
Assim como acessamos o organismo, temos acesso ao funcionamento da casa. Assim como cuidamos da higiene do corpo, cuidamos da limpeza da casa.

Se nos alienamos do nosso corpo, deixando-o à mercê só de especialistas, a chance de percebemos tardiamente uma disfunção aumenta. O contato com o corpo facilita a compreensão de avisos – e não só de pedidos de socorro.
Quem mora numa casa cujo interior lhe é desconhecido não passa de um estranho no ninho ou alguém que vive num ninho estranho. Só quem participa do dia a dia do lar se sente em casa.
Prevenir é melhor do que remediar. Vale para a minha vida orgânica e para o ninho que a contem.
Quem não arruma a cama não percebe se o colchão e o lençol estão em bom estado. Antes que o dano seja irreversível, é bom ter contato com o que nos rodeia.
Quem nunca lava e guarda a louça não sabe o que tem o que falta e o que é demais. Estar presente na manutenção da casa e do corpo é uma forma de garantir longa vida. É importante que a casa seja fruto da manutenção dos que a usam. Cuidar, manter, limpar é que é ter. Quem cuida tem.
Não adianta título de propriedade se não sei onde é a caixa de luz...
Aquelas famílias que fazem coisas – mãe que borda, pai que conserta- transmitem aos filhos a sensação de que podemos.
É raro ouvir alguém que rememore a infância sem fazer referencias aos afazeres – a lembrança do dia em que o pai, o tio fez uma pipa, um bolo, uma caixinha.
A visão do adulto fazendo é uma das melhores memórias da criança. Falo em fazer em casa, onde a criança pode participar e se sentir incluída.
É bom quando a gente sabe onde esta o lenço, o analgésico e a toalha. É na familiaridade com os objetos que reside minha segurança.
Esta casa é minha. Estou em casa. Não estou sozinha. Fazemos juntos. Aqui se faz.
Fonte – Folha de São Paulo- Caderno Equilíbrio por Ana Veronica Mautner- psicanalista da sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.