6 DE JANEIRO DIA DE REIS!
Das figuras bíblicas mais intimamente ligadas à tradição religiosa do
povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os Santos Reis uma vez que a
hagiologia romana considera-os bem aventurados.
O simbolismo
dos Reis Magos é amplo e emprestam-lhes os exegetas as mais diversas
interpretações. Estão ligados intimamente às festas do Natal e deles
nasceu, praticamente, a tradição do
Papai Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que os
magos do Oriente, depois de cumprida a rota que lhes indicava a estrela
de Belém, prestaram a Jesus na gruta onde ele nascera.
As
referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos
evangelistas, mas as contribuições da tradição patriática são muitas e,
como elas têm força de fé e verdade, nelas devemos buscar grande parte
das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já
referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a
homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.
De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Vinham do Oriente e
Baltazar, o mago negro talvez viesse de Sabá (terra misteriosa que seria
o sul da Península Arábica ou, como querem os etíopes, a Abissínia).
Simbolizam também as três unicas raças bíblicas, isso é, os semitas,
jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos os homens da Terra ao
Rei dos Reis.
Eram magos, isto é, astrólogos e não
feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido,
confundindo-se também com os termos sábio e filósofo.
Eles
prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença de um
novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar
seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas
secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de Judá e,
que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao menino
que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse
deste mundo.
O SIMBOLISMO DOS PRESENTES!
Conta ainda a
tradição que, ao chegar a Canaã, indagaram os Magos onde havia nascido o
novo Rei de Judá. Essa pergunta preocupou Herodes, que hoje seria
considerado um quisting a serviço dos romanos, e que reinava na Judéia.
Os representantes do Império preocupavam-se com o aparecimento de um
novo lider do povo de Israel. A revolta dos macabeus ainda não fora
esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela vinda do Messias que
iria libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do salmista: "Disse o
Senhor ao meu Senhor senta-te à minha direita até que ponho os teus
amigos como escarbelo aos teus pés".
Os magos procuram conforme
conselho de Herodes o novo Rei para render-lhe homenagem e para
informar o representante romano do lugar onde nascera o Messias a fim
de, com falso preito, sequestrá-lo.
No presépio encontramos
apenas os animais e os pastores e, inspirados pelo Espírito Santo,
curvaram-se diante do filho do carpinteiro de Nazaré e depositaram, ao
pé da mangedoura que lhe servia de berço, os presentes: ouro, incenso e
mirra, isto é prendas que simbolizavam a realeza, a divindade e a
imortalidade do novo Rei, e grão de areia que cresceria e derrubaria o
ídolo de pés de barro (simbolo das grandes potências que se sucederam no
domínio do mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo profeta
Daniel.
SÍMBOLOS DA HUMILDADE
Na tradição cristã os
três Reis Magos simbolizavam os poderosos que deveriam curvar-se diante
dos humildes na repetição real do canto da Virgem Maria à sua prima
Isabel, e "Magnificat", pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que
exaltaria os pequenos de Israel e humilharia os poderosos.
A igreja
cultua os Reis Magos dentro desse simbolismo. Representam os tronos, os
potentados, os senhores da Terra que se curvara diante de Cristo,
reconhecendo-lhe a divina realeza. É a busca dos poderosos que vêem em
Belchior, Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos designios de Deus
e que devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos
pés dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos
despenseiros de Deus.
Os presentes de Natal também têm esse
sentido. São as ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza
representa Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico
pagão, buscando nas cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais
romanas a pompa das festas natalinas que culminam com a Epifania.
A BIFANA
A palavra epifania, usada também como nome de mulher, deu origem a uma
corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois a Portugal e
Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no Dia
de Reis , saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos
que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente
ligada às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do
significado litúrgico das festas natalícias.
Os presentes eram
somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Tanto assim é, que nós
mesmos, no Brasil, na nossa infância, recebíamos os presentes nesse dia.
Depois, com a influência francesa e inglesa em nossas tradições a
Epifania ou Bifana foi substituída pelo Papai Noel, a quem muitos
estudiosos atribuem uma origem pagã e outros, para disfarçar o sentido
comercial da sua presença no dia de Natal, confundem com São Nicolau.
Hoje, o Santos Reis já não são lembrados. O presépio praticamente não
existe e só neles é que podemos ver os Magos de Oriente apresentados. A
árvore de Natal, pinheiro que os druidas e os feutos enfeitavam para
agradar o terrível deus do inverno Hell, substituíria a representação do
nascimento de Jesus, introduzida no costume dos povos por São Francisco
de Assis.
A festa da Epifania, dia de guarda no calendário
litúrgico, já não mais é respeitada e com ela desaparecerem outras
tradições da nossa gente, trazidas da Peninsula Ibérica pelos nossos
antepassados, como a folia de Reis, Reizados e tantos outros autos
folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.