As causas e a cura das doenças
O
homem possui uma Alma que é seu eu real: um Ser Divino, Poderoso, Filho
do Criador de todas as coisas. Ele, nosso Eu Superior, sendo uma
centelha do Todo-Poderoso, é, desse modo, invencível e imortal. Nunca
será demasiado insistir no fato de que cada Alma encarnada neste mundo
está aqui com o propósito específico de adquirir experiência e
compreensão e de aperfeiçoar sua personalidade com vistas aos ideais da
Alma
Se tivermos em nossa natureza amor
suficiente por todas as coisas, não seremos a causa de agravo a ninguém;
pois esse amor sustenta o gesto agressor, e impedirá nossa mente de se
entregar a qualquer pensamento que possa magoar alguém. Que se lembre
também que viemos a este mundo para vencermos batalhas, para adquirirmos
forças contra quem nos quer controlar, e para avançar àquele estágio em
que passamos pela vida cumprindo nosso dever sem nos amedrontarmos e
sem nos deixar influenciar por qualquer criatura, guiados sempre pela
voz do Eu superior. Somos Almas vindas aqui com a missão de obter o
conhecimento e toda a experiência que podem ser adquiridos ao longo da
existência terrena; de desenvolver virtudes de que carecemos, de
extinguir tudo que é defeituoso dentro de nós e, dessa forma, avançar em
direção à perfeição de nossa natureza. A Alma sabe que ambiente e que
circunstância nos ajudarão melhor a levar a cabo tal empresa
(aperfeiçoamento) e, por isso, nos reserva aqueles ramos da existência
mais adequados para se atingir semelhante objetivo. Devemos compreender
que a curta passagem por esta terra, que conhecemos como vida, não é
mais que um breve instante no curso de nossa evolução, assim como um dia
na aula está para uma vida e, embora possamos no momento ver e
compreender somente esse único dia, nossa intuição nos diz que o
nascimento esteve infinitamente longe do nosso começo e a morte
infinitamente longe do nosso fim. Lembremos que a enfermidade é um
inimigo comum, e que cada um de nós que domine um fragmento dela está,
por isso mesmo, ajudando não só a si próprio, mas a toda a humanidade. A
Causa de todos problemas é o ego e a separatividade, e esses
desaparecem tão logo o Amor e o conhecimento da grande Unidade se tornem
parte de nossas naturezas. As doenças reais e básicas do homem são
certos defeitos como orgulho, a crueldade, o ódio, o egoísmo, a
ignorância, a instabilidade e a ambição; e se cada um deles for
considerado individualmente, notar-se-á que todos são contrários à
Unidade. O orgulho se deve, em primeiro lugar, à incapacidade de se
reconhecer à pequenez da personalidade humana e sua absoluta dependência
da Alma, e de aceitar a que todas as vitórias que se possam ter não se
devem a essa personalidade, mas são bênçãos com que nos agraciou a
Divindade interior; em segundo, deve-se à perda do senso de proporção,
da noção de quanto se é insignificante diante do complexo arranjo da
Criação. Como o orgulho se mostra invariavelmente relutante em se curvar
com humildade e resignação à Vontade do Grande Criador, ele pratica
ações contrárias a essa vontade. A crueldade é uma negação à Unidade de
todas as coisas e uma incapacidade de se compreender que toda ação
adversa para o outro está em oposição ao todo e é, portanto, uma ação
contrária à Unidade. Nenhum homem levaria as consequências desastrosas
da crueldade àqueles que estão mais próximos de si e que lhe são mais
caros, e, segundo a lei da Unidade, temos de amadurecer até entendermos
que cada um, como uma parte do todo, deve se tornar próximo de nós e
querido por nós, e que até mesmo aqueles que nos molestam só lhes
dediquemos amor e compreensão. O ódio é o contrário do Amor, o reverso
da Lei da Criação. Ele se opõe a toda Obra Divina e é uma negação ao
Criador, conduz apenas a pensamentos e a ações que são adversos à
Unidade e contrários àqueles que seriam prescritos pelo Amor. O egoísmo
é, também uma negação à Unidade e ao dever que temos para com nossos
irmãos humanos, pois ele faz com que coloquemos nossos interesses
pessoas antes do bem-estar da humanidade, do carinho e da proteção que
deveríamos dedicar aos que estão mais perto de nós. A ignorância é o
fracasso em aprender, a recusa em ver a Verdade quando se tem a
oportunidade para tanto, e conduz a muitos atos errôneos que só podem
existir em meio à escuridão, pois não podem resistir quando está a
rondar-nos a luz da Verdade e do Conhecimento. A instabilidade, a
indecisão e a falta de determinação ocorrem quando a personalidade se
recusa a ser governada pelo Eu Superior, e nos levam a atraiçoar os
outros devido nossa fraqueza. Semelhante condição não seria possível se
tivéssemos dentro de nós o conhecimento da Imbatível e Invencível
Divindade, que é, na realidade, nós próprios. A ambição conduz ao desejo
de poder. É uma negação à liberdade e à individualidade de toda Alma.
Em vez de conhecer que cada um de nós está aqui para se desenvolver
livremente segundo as próprias diretrizes e em conformidade com os
ditames da própria Alma, para aumentar cada vez mais sua individualidade
e trabalhar com liberdade e desenvoltura, a personalidade ambiciosa
compraz-se em ditar ordens, conformar tudo à sua vontade e comandar,
usurpando o poder do Criador. O orgulho, que é arrogância e rigidez
mental, despertará doenças que ocasionarão a rigidez e a ancilose do
corpo. A dor é o resultado da crueldade, e, por meio dela o paciente
aprende, através do próprio sofrimento, a não infligi-lo aos outros, do
ponto de vista físico ou mental. As penalidades resultantes do ódio são o
isolamento, o temperamento violento e incontrolável, as perturbações
mentais e os estados de histeria. As doenças decorrentes da introspecção
– a neurose, a neurastenia e os estados semelhantes – que acabam
tirando da vida tantas alegrias, são causadas pelo egoísmo em excesso. A
ignorância e a falta de sabedoria criam suas próprias dificuldades na
vida cotidiana e se, além disso, houver persistência na recusa em ver a
Verdade quando a oportunidade é dada, a miopia e outras deficiências
visuais e auditivas serão as consequências naturais. A instabilidade da
mente pode acarretar no corpo a mesma característica, com aquelas várias
disfunções que afetam os movimentos e a coordenação motora. As
consequências da ambição e da vontade de dominar os outros são aquelas
doenças que levam a quem delas sofre a ser escravo do próprio corpo, com
os desejos e ambições refreados pela enfermidade.
Ademais, a parte afetada do corpo não é
obra do acaso, mas obedece à lei de causa e efeito e, uma vez mais, pode
servir de guia para nos ajudar. Por exemplo, o coração, a fonte da vida
e, portanto, do amor, é atacado especialmente quando o lado amoroso da
natureza do indivíduo para com a humanidade não é desenvolvido ou é
utilizado de modo errado; a mão lesada denota falha ou erro na ação; o
cérebro sendo o centro de controle do corpo, se afetado, indica uma
falta de controle na personalidade. Tudo isso deve seguir o que a lei
estabelece. Estamos todos prontos a admitir as diversas consequências
que se seguem a uma crise nervosa, a um choque emocional de más notícias
que chegam de repente; se as atividades corriqueiras podem assim afetar
o corpo, quão mais grave e profundamente enraizado deve ser um conflito
que existe desde há muito entre a alma e o corpo! Como podemos nos
espantar com o fato de as consequências provocarem doenças tão graves
como as que existem entre nós atualmente? Contudo, não há motivo para
depressão. A prevenção e a cura acontecem quando localizamos o erro
dentro de nós mesmos, e suprimimos esse defeito por meio do cuidadoso
aprimoramento da virtude que o destruirá; não combatendo diretamente o
erro, mas desenvolvendo tanto essas virtudes opostas que ele chegue a
ser varrido de nossas naturezas. O dever da arte de curar consistirá em
ajudar-nos a obter o conhecimento necessário e os meios pelos quais
superar nossos males e, além disso, em ministrar os remédios que
fortalecem nossos corpos físicos e mentais e nos deem maiores
oportunidades de vitória.
Dr. Edward Bach