sexta-feira, 26 de julho de 2013

Krishna

Krishna

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Krishna tocando flauta
Krishna (sânscrito: कृष्ण) é uma figura central do Hinduísmo. Aparece em um amplo espectro de tradições filosóficas e teológicas hindus, sendo retratado em várias perspectivas: como um deus do panteão hindu, como uma encarnação de Vishnu ou ainda como a forma original e suprema de Deus. Krishna é o oitavo avatar de Vishnu.
Embora haja diferenças nas concepções da identidade de Krishna e nos detalhes de sua biografia, alguns aspectos básicos são compartilhados por todas as tradições. Estes incluem um nascimento milagroso, uma infância e juventude pastoris, e a vida como príncipe, amante, guerreiro e mestre espiritual ideais.
As principais Escrituras que discutem a história de Krishna são o Mahabharata, o Harivamsa, o Bhagavata Purana e o Vishnu Purana.
O culto a Krishna pode ser rastreado até meados do século IV a.C. A adoração a Krishna como svayam bhagavan, ou o Ser Supremo, surgiu na Idade Média, no contexto do movimento de bhakti. A partir do século X, Krishna torna-se o assunto favorito em artes cênicas e desenvolvem-se tradições regionais de devoção, como Jagannatha em OrissaVithoba em Maharashtra e Shrinathji no Rajastão.
Desde a década de 1960, a adoração a Krishna espalha-se também no Ocidente, em grande parte devido ao trabalho missionário de Bhaktivedanta Swami Prabhupada e sua Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna.

Krishna e Radha

Nome e títulos[editar]

A palavra em sânscrito kṛṣṇa é essencialmente um adjetivo que significa "negro", "azul" ou "azul-escuro". Como um substantivo feminino, kṛṣṇa é usado no sentido de "noite", "escuridão" noRigveda. Krishna é um nome de Deus que significa “o todo atraente”, a Verdade absoluta.
Mahabharata (Udyogaparva 71.4) analisa a palavra Kṛishna da seguinte maneira:
krishir bhu-vacakah sabdo nas ca nirvriti-vacakah
tayor aikyam param brahma krishna ity abhidhiyate
(Tradução) - A palavra 'krish' é a característica atrativa da existência divina, e 'na' significa 'prazer espiritual.' Quando o verbo 'krish' é adicionado ao 'na', ele se torna 'krishna', que indica a Suprema Verdade Absoluta.
Krishna também é conhecido por diversos nomes, epítetos e títulos, que refletem suas múltiplas qualidades e atividades. Entre os mais usados, estão Hari ("Aquele que tira" [pecados, ou que afasta samsara, o ciclo de nascimentos e mortes]), Govinda ("Aquele que dá prazer às vacas, à Terra e aos sentidos") e Gopala ("Protetor das vacas" ou, mais precisamente, "Protetor da vida").

Iconografia[editar]

Krishna é facilmente reconhecido por suas representações artísticas. Sua pele é retratada na cor preta ou azul-escura, conforme descrito nas Escrituras, embora em representações pictóricas modernas ele geralmente seja mostrado com pele azul.
Ele aparece usando um dhoti de seda amarelo, e uma coroa de penas de pavão. Representações comuns mostram-no como um bebê, um menino ou um jovem. Normalmente está com uma perna dobrada na frente da outra, levando uma flauta aos lábios, esboçando um sorriso misterioso, e acompanhado por vacas.
A cena no campo de batalha de Kurukshetra, nomeadamente quando se dirige a Arjuna no Bhagavad Gita, é outro tema comum para sua representação. Nessas cenas, ele é mostrado como um homem de dois braços atuando como cocheiro, ou com as típicas características da arte religiosa hindu (tais como braços ou cabeças múltiplas) e com atributos de Vishnu, como o chakra.

Biografia[editar]

Este resumo se baseia no Mahabharata, no Harivamsa, no Bhagavata Purana e no Vishnu Purana . Os fatos narrados ocorreram no norte da Índia, a maior parte nos atuais estados de Uttar PradeshBiharHaryanaDeli e Gujarat.

Nascimento e infância[editar]


Krishna e Yashoda - a mãe adotiva.
De acordo com o Bhagavata Purana, Krishna nasceu sem uma união sexual, mas por meio da "trasmissão mental" ióguica da mente de Vasudeva no ventre de Devaki. Baseado em dados das Escrituras e cálculos astrológicos, a data de nascimento de Krishna, conhecida como Janmastami, é o dia 18 de julho de 3228 a.C. Krishna pertencia ao clã Vrishni dos Yadavas, de Mathura, capital dos clãs Vrishni, Andhaka e Bhoja. Foi o oitavo filho da princesa Devaki e seu marido Vasudeva
O rei Kamsa subiu ao trono após mandar prender o próprio pai, Ugrasena (rei da dinastia Bhoja). Kamsa é tido como um grande demônio, que pertencia à classe dos Kshatriyas, mas que, de algum modo, havia se desviado do Dharma universal.
No caminho que conduzia os noivos até a nova casa, Kamsa escutou uma voz que dizia que o oitavo filho de Devaki iria levá-lo à morte. Imediatamente fez menção de matar Devaki, mas Vasudeva implorou pela vida da esposa, prometendo que cada filho que nascesse, seria levado à presença de Kamsa.
Receoso, mandou prender Vasudeva e a esposa no porão do castelo, sendo vigiados dia e noite por guardas. Cada filho do casal que nascia era morto por Kamsa, que mesmo sabendo que a profecia se cumpriria apenas no oitavo filho, não tinha piedade de nenhum e matava a todos.
Kamsa havia sido alertado por Narada Muni que em breve Vishnu nasceria na família de Vasudeva. Soube também, através deste sábio, que em uma encarnação anterior, Kamsa havia sido um demônio chamado Kalanemi que tinha sido morto por Vishnu.
Conta a tradição védica que Kamsa, temendo que Vishnu nascesse em qualquer uma das famílias do reino, mandou matar todos os meninos com até dois anos de idade, a fim de evitar o cumprimento da profecia.
E foi então que o oitavo filho de Devaki nasceu - Bhagavan Sri Krishna. O local do nascimento é conhecido atualmente como Krishnajanmabhoomi, onde um templo foi erguido em honra. Como sua vida corria risco na prisão, foi tirado da prisão e entregue aos pais adotivos Yashoda e Nanda em Gokula.

Juventude[editar]


Krishna e Gopis na floresta
Nanda, pai adotivo de Krishna, era o líder de uma comunidade de pastores de gado. As histórias da infância e juventude contam a vida e relação com as pessoas da região. Uma dessas histórias conta que Kamsa, descobrindo que ele havia sido libertado da prisão, enviou vários demônios para impedir que isso acontecesse. Todos falharam. São muitas as façanhas de Krishna e as aventuras com as Gopis da vila, incluindo Radha, que se tornou mais tarde conhecida como o Rasa lila.

Krishna, o Príncipe[editar]

Krishna, então um jovem homem, retorna para Mathura, acaba com o governo de Kamsa, e institui o pai, Vasudeva, que havia sido aprisionado por Kamsa, como rei de Yadavas. Em seguida declarou a si mesmo príncipe da corte. Neste período iniciou a amizade com Arjuna e outros príncipes de Pandava do reino de Kuru. Casou-se com Rukmini, filha do rei Bishmaka de Vidarbha. Ele também teve outras sete esposas, incluindo Satyabhama e Jambavati.

A guerra de Kurukshetra[editar]

Krishna possuía primos em ambos os lados na guerra entre os Pandavas e os Kauravas, porém ele tomou o lado dos Pandavas e concordou em ser o cocheiro da carruagem de Arjuna - o primo e grande amigo - na batalha decisiva. O Bhagavad Gita consiste nos conselhos dados por Krishna a Arjuna, antes do início do combate.

Últimos dias[editar]

Segundo o Mahabharata, a Batalha de Kurukshetra resultou na morte de todos os cem filhos de Gandhari. Na noite antes da morte de Duryodhana, o Senhor Krishna visitou Gandhari para oferecer suas condolências. Pressentindo que Krishna conscientemente não tinha posto fim à guerra, Gandhari teve um acesso de raiva e tristeza, e amaldiçoou Krishna e toda a dinastia dos Yadu a morrerem no prazo de 36 anos.
Em um festival, uma briga começou entre os Yadavas, que exterminaram uns aos outros. Balarama, o irmão mais velho de Krishna, entregou conscientemente o corpo usando yoga. Krishna se retirou para a floresta e sentou-se debaixo de uma árvore em meditação. Um caçador chamado Jara confundiu o pé parcialmente visível de Krishna com um veado, e atirou uma flecha ferindo-o mortalmente.
De acordo com os eruditos vaishnavas, o corpo de Krishna é completamente espiritual, e não seria corruptível nem sujeito à morte e à deterioração. Mesmo assim, na execução de seus passatempos terrenos, ele aparenta nascer e morrer como uma pessoa comum.
Ao ver que tinha ferido Krishna, o caçador ficou muito perturbado e pediu perdão. Krishna então respondeu-lhe: "Você era Vali em seu nascimento anterior, e eu era Rama, que o matei secretamente. Você queria se vingar, e, assim, neste meu aparecimento, estou cumprindo seu desejo; tudo isso fazia parte do meu plano". Dizendo isso, Krishna partiu para Goloka, sua morada celestial.
Segundo as Escrituras hindus, o desaparecimento de Krishna ocorreu na meia-noite de 17 para 18 de fevereiro de 3102 a.C. e marca o fim de Dwapara Yuga e o início de Kali Yuga, a era da hipocrisia e das desavenças. Devido à presença de Krishna no planeta, o demônio Kali não se atreveu a manifestar-se com toda a sua força. Mas neste mesmo dia, Kali entra no mundo na forma do delito de ferir uma vaca - justamente o animal preferido de Krishna.

Devoção a Krishna[editar]

Krishna segundo o Bhagavata Purana[editar]

Segundo o Srimad Bhagavatam, Krishna é a forma original de Deus, superior a todas as outras expansões divinas, já que todas emanam dele. Krishna é um ser eterno, sem nascimento nem morte, que adotou uma manifestação temporária na terra para poder agraciar seus devotos e aniquilar os demônios - mas que simultaneamente está presente eternamente em seu planeta espiritual.

Gita Govinda[editar]

Vários trabalhos foram importantes na difusão da devoção a Krishna, especialmente o Gita Govinda, escrito por Jayadeva Goswami na Índia oriental, no século XII. Trata a respeito da relação íntima de Krishna com uma gopi em particular, Radharani (que no Mahabharata teve papel secundário).

Movimentos recentes de Krishna-bhakti[editar]

Derivações posteriores das primeiras tradições de devoção a Krishna incluem a que foi promovida pelo santo bengali Caitanya Mahaprabhu, no século XVI. Seus seguidores consideram-no uma encarnação de Krishna e Radharani num só corpo. Vários movimentos pertencem a esta tradição, entre eles o Movimento Hare Krishna.
Fundado em nova York pelo guru indiano Bhaktivedanta Swami Prabhupada em 1966, o Movimento Hare Krishna é o principal responsável pela disseminação contemporânea da figura de Krishna no Ocidente.