sexta-feira, 31 de maio de 2013

O encontro com a sombra

O encontro com a sombra


Embora não possamos fitá-la diretamente, a sombra surge na vida diária.
Por exemplo, nós a encontramos em tiradas humorísticas (tais como piadas sujas ou brincadeiras tolas) que expressam nossas emoções ocultas, inferiores ou temidas. Analisando de perto aquilo que achamos engraçado (como alguém escorregando numa casca de banana ou se referindo a uma parte "proibida" do corpo), descobrimos que nossa sombra está ativa.
John Sanford diz que é possível que as pessoas destituídas de senso de humor tenham uma sombra muito reprimida.
Em geral, é a sombra que ri das piadas.
A psicanalista inglesa Molly Tuby sugere seis outras maneiras pelas quais, mesmo sem saber, encontramos a nossa sombra no dia-a-dia:

•Nos nossos sentimentos exagerados em relação aos outros ("Eu simplesmente não acredito que ele tenha feito isso!", "Não consigo entender como ela é capaz de usar uma roupa dessas!")

•No opinião negativo que recebemos daqueles que nos servem de espelhos ("Já é a terceira vez que você chega tarde sem me avisar.")

•Nas interações em que continuamente exercemos o mesmo efeito perturbador sobre diversas pessoas diferentes ("Eu e o Sam achamos que você não está sendo honesto com a gente.")

•Nos nossos atos impulsivos e não-intencionais ("Puxa, desculpe, eu não quis dizer isso!")

•Nas situações em que somos humilhados ("Estou tão envergonhada com o jeito que ele me trata.")

•Na nossa raiva exagerada em relação aos erros alheios ("Ela simplesmente não consegue fazer seu trabalho em tempo!", "Cara, mas ele perdeu totalmente o controle do peso!")

Em momentos como esses, quando somos dominados por fortes sentimentos de vergonha ou de raiva, ou quando descobrimos que nosso comportamento é inaceitável, é a sombra que está irrompendo de um modo inesperado.
E em geral ela retrocede com igual velocidade; pois encontrar a sombra pode ser uma experiência assustadora e chocante para a nossa auto-imagem.

Por essa razão, podemos mudar rapidamente para a negação, deixando de prestar atenção a fantasias homicidas, a pensamentos suicidas ou a embaraçosos sentimentos de inveja, que revelariam um pouco da nossa própria escuridão.

O falecido psiquiatra R. D. Laing descreve de modo poético o reflexo de negação da nossa mente:

"O alcance do que pensamos e fazemos
é limitado pelo que deixamos de notar.
E por deixarmos de notar
que deixamos de notar
pouco podemos fazer para mudar,
até que notemos
como o deixar de notar
forma nossos pensamentos e ações."


Se a negação permanecer, então, como diz Laing, talvez nem sequer notemos que deixamos de notar. Por exemplo, é comum encontrarmos a sombra na meia-idade, quando nossas mais profundas necessidades e valores tendem a mudar de direção. talvez até fazendo um giro de 180 graus, Isso exige a quebra de velhos hábitos e o cultivo de talentos adormecidos. Se não pararmos para ouvir atentamente o chamado e continuarmos a nos mover na mesma direção anterior, permaneceremos inconscientes daquilo que a meia-idade tem a nos ensinar.

A depressão também pode representar uma confrontação paralisante com o lado escuro,um equivalente moderno da "noite escura da alma" do místico.
Nossa exigência interior para que desçamos ao mundo subterrâneo pode ser suplantada por considerações de ordem externa (como a necessidade de trabalhar por longas horas), pela interferência dos outros ou por drogas antidepressivas que amortecem a nossa sensação de desespero. Nesse caso, deixamos de apreender o propósito da nossa melancolia.
Encontrar a sombra pede uma desaceleração do ritmo da vida, pede que ouçamos as indicações do nosso corpo e nos concedamos tempo para estar a sós, a fim de podermos digerir as mensagens misteriosas do mundo oculto.

http://www.veterinariosnodiva.com.br/books/8-Encontro-Da-Sombra.pdf