Quanto vale a paz para você? Nunca poderíamos pagá-la mas mesmo assim a valorizamos imensamente. A concepção de poder pagar por ela é uma ilusão. Quanto você pagaria pelo preço de conhecer o seu real propósito na vida ou de poder acessar através de um professor ou um mestre um conhecimento fundamental acerca de si mesmo? Não devemos ser hipócritas, o dinheiro não é um ‘mal’ necessário, dinheiro é simplesmente necessário e todos precisamos ganhá-lo, bem ou mal para viver. A moeda é um meio de troca que socialmente possuímos como na época dos escambos, só pra ser bem recente e em que na tradição védica se compara à seva (um trabalho realizado como troca, agradecimento ou oferecimento a um conhecimento recebido). Portanto no mundo da espiritualidade também não funciona diferente. Por que temos a ideia de que uma aula de yoga precisa ser muito acessível, e ao mesmo tempo um jantar em um lugar caro vale o dobro de seu valor e não é questionado? Temos em nossa cultura um tabu quase que religioso ou diabólico ao relacionar o dinheiro e a espiritualidade, e tendemos a colocar o peso das injustiças do mundo neste pequeno papel, como se ele fosse a causa das desigualdades que existem.
Sabemos que no sistema capitalista em que vivemos, todo trabalho é consequência de um esforço que foi feito por um indivíduo e devido ao seu tempo e habilidades, ganhou-se seu respectivo valor. Se a sociedade nos proporcionasse tudo o que precisássemos de graça, não teria sentido em cobrar por aulas de autoconhecimento ou meditação visto que as necessidades de todos estariam garantidas, mas sabemos que não funciona assim. Isso pode causar nas pessoas uma mentalidade em que se valorize muito aquilo que se possui materialmente e acabe dando maior importância às pessoas que possuem tais condições e bens em detrimento do ser. Entretanto, hoje em dia, aqueles que buscam se autoconhecer e querem cultivar uma vida mais saudável, como por exemplo com o Yoga e outras práticas, também valorizam o dinheiro, é claro! Somente a partir dele é possível frequentar aulas, estudar com um professor, visitar templos, fazer peregrinações e viagens, comprar livros etc. Se trata de uma relação em si, e portanto, é mister também que tenhamos uma boa relação com ele e que o demos o devido valor com pensamentos coerentes, como em toda e qualquer área de nossa vida. Só desta forma ele pode fluir de acordo com nosso suor e Dharma.
Me lembro quando estive em Rishkesh e assim que pisei em um dos templos à beira do rio, não entendia muito sobre os rituais daqueles homens. Após um deles me oferecer a puja (o pujari), abençoar, entoar alguns mantras e passar cinzas na minha testa, me senti plena e pura, até ele pedir uma contribuição pelo seu ato, o qual interpretei como um abuso por ele não ter perguntado antes se eu concordaria, e até o considerei um indiano malandro! Pensei que seu ato era somente para me receber e que havia sido uma estrangeira ingênua em acreditar que ele o estava fazendo gratuitamente. Dei algumas rúpias, mas me senti um pouco invadida, não pelo valor que era irrisório, mas pela sensação que é comum na Índia por assim dizer em várias ocasiões, de invasão. Algo parecido se repetiu em Pushkar, em um lago sagrado, mas dessa vez as orações e oferecimentos foram oferecidas a serem compradas por um boleto com um valor grande que valia para vários dias de rituais. Engraçado, pensei, será que não se podia participar ou rezar livre e gratuitamente neste local ou assistir à uma cerimônia específica? Não pelo que pareceu, em algumas circunstâncias tinha uma contribuição se você estivesse em um recinto privado, o valor do conhecimento e prática do pujari, o gasto com a compra das flores, cuidado com a limpeza, canto dos devotos, a própria atmosfera que criavam, como dizem ‘tudo tem seu preço’ e o mais importante – é dada uma retribuição genuína a Deus de acordo com a tradição.
Por fim, há um valor para cada trabalho, seja daquela que vê o futuro nas cartas de um tarô, daquele que constrói uma casa ou daqueles que salvam vidas como um médico ou bombeiro, e daqueles que rezam uma missa ou puja, dão aulas de Yoga ou Vedanta e proporcionam conhecimento e capacidade de devoção às pessoas. Respeitar este tópico não se trata de exploração, é um meio de vida. Porém atente quando é exploratório e alguém lhe diz para doar tudo que construiu a vida toda a um ashram de um novo guru que o libertará.
O que fazemos com o dinheiro para realizar as devidas ações é o que realmente importa mas a verdade é que é um recurso indispensável e fundamental principalmente no universo da espiritualidade. Não podemos ajudar se não possuímos meios para tal.
Que saibamos rezar para que Lakshmi, a forma de Deus simbolizando riqueza, os recursos, a fartura material e espiritual, nos dê não só saúde, força e fé; mas também condições e nos permita continuar aprendendo graças ao preço deste conhecimento que nos é tão caro.