Vídeo mostra área próxima ao Brasil onde estaria continente submerso
Geólogos divulgaram nesta semana achado em região a 1.500 km do litoral.
Cientistas querem saber mais sobre biodiversidade e recursos naturais.
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Gravações feitas pelo equipamento reforçaram indícios de que um pedaço de crosta continental teria se descolado e afundado durante a separação da África e da América do Sul, época em que surgiu o Oceano Atlântico. Além disso, as imagens vão ajudar biólogos a detalhar o ecossistema marinho e, possivelmente, descrever espécies ainda desconhecidas pela ciência.
A hipótese da existência da "Atlântida brasileira" foi divulgada nesta terça-feira (6) pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). No entanto, ela surgiu há dois anos, com o encontro de rochas de granito durante uma prospecção de recursos naturais na Elevação do Rio Grande -- uma cordilheira marítima em águas internacionais.
Tais amostras são consideradas parte de solo continental e seriam mais antigas que as rochas comumente encontradas no assoalho oceânico, nome dado à superfície da Terra que fica abaixo do nível das águas do mar.
A existência desses minerais fizeram o governo gastar nos últimos quatro anos um montante estimado entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões em prospecções, no intuito de detalhar mais a região.
Esse reforço de informações poderá ajudar o Brasil a solicitar que a área, atualmente em águas internacionais, seja anexada ao país e se torne uma zona de exploração econômica.
Segundo o diretor de geologia do CPRM, Roberto Ventura, este pedido deverá ser feito em breve à Autoridade Internacional de Fundos Marítimos (ISBA, na sigla em inglês), organismo ligado à Organização das Nações Unidas.
Biodiversidade chama a atenção
Segundo o pesquisador brasileiro Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), que mergulhou a 4.200 metros de profundidade no Atlântico a bordo do Shinkai 6500, além da descoberta de um possível continente, surpreendeu a rica biodiversidade encontrada a milhares de metros da superfície do oceano.
Um consórcio científico firmado entre três universidades brasileiras, entre elas USP, utilizou a expedição para analisar o ecossistema encontrado na região da Elevação do Rio Grande.
Rochas encontradas durante expedição geológica ao
Elevado Rio Grande, na costa brasileira
(Foto: Divulgação/CPRM)
De acordo com Sumida, foram recolhidas mais de mil amostras de corais e
genes de espécies como peixes, vermes e outros organismos, que deverão
ser analisados em laboratórios da USP, da Universidade Federal
Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, e da Universidade do Vale do Itajaí
(Univali), em Santa Catarina.Elevado Rio Grande, na costa brasileira
(Foto: Divulgação/CPRM)
Ele acredita que o trabalho deve contar com a descrição de novas espécies que vivem naquela região. “Vimos organismos com formas peculiares de sobrevivência. Alguns produzem luz fluorescente, outros têm adaptações físicas, como os pepinos-do-mar. No fundo do oceano eles são capazes de nadar, já na superfície são sedentários e não se locomovem”, explicou.
'Sensação de estar no espaço'
Sumida contou ainda que durante o mergulho a bordo do submersível foi possível visualizar tubarões, moluscos, lulas, camarões e até uma espécie chamada de polvo-Dumbo, animal que recebeu este nome por ter duas nadadeiras na cabeça, que lembram as grandes orelhas do elefante Dumbo, personagem da animação de Walt Disney.
Estudos genéticos serão realizados e a fauna ali encontrada será comparada com ecossistemas marinhos presentes em outras regiões do planeta.
Sobre a sensação de explorar o desconhecido, neste caso o fundo do mar, o pesquisador brasileiro explica que a emoção deve ser a mesma daqueles que vão ao espaço. “É sentimento de isolamento e êxtase ao ver coisas que antes você só lia em livros e entender como elas interagem. Nunca fui ao espaço, mas a sensação deve ser a mesma”, finaliza.
Imagem
do submersível japonês Shinkai 6.500 que ajudou geólogos a reforçar
indícios de que há um continente que estaria a 1.500 km da costa do
Brasil (Foto: Reprodução/CPRM)
Exemplar
de caranguejo é visto no fundo do mar, na região do Elevado do Rio
Grande, a 1.500 km do litoral brasileiro (Foto: Reprodução/CPRM)