O carvão e o diamante
Poucos sabem que o carvão e o diamante são almas gêmeas.
Ambos possuem uma essência comum: o carvão e o diamante possuem o carbono como elemento constituinte.
Mas esses irmãos têm personalidades próprias! Um é opaco e escuro. O outro translúcido e brilhante. O carvão tem uma personalidade muito sensí...vel e qualquer estímulo o fragmenta. Já o diamante é um dos mais duros materiais que conhecemos - personalidade forte.
Qual será o mistério das diferenças destas duas almas gêmeas?
Não há nenhum mistério! O que acontece é que o arranjo molecular do diamante é mais ordenado.
O diamante é apolíneo. Apolo é o deus grego da harmonia, da ordem, da razão e da beleza. Mas o carvão é dionísico (deus Dionísio). Este pode representar o caos, a desordem e a loucura. Esse deus está ligado ao vinho e ao estado de embriaguez. Um deus que "vive de fogo" ( no caso do carvão - ele vive no fogo).
O diamante tem muito mais valor do que o carvão. Exemplo disto é o fato de eu nunca ter visto mulheres usando jóias feitas com carvão.
Esse valor do belo ordenado e simétrico vem da cultura grega que tanto nos influenciou.
A cultura ocidental tem um apreço maior por Apolo (o diamante). Dionísio (o carvão) foi posto de lado em uma cultura que valoriza a beleza e a ordem.
Ao fazer uma crítica da influência do pensamento grego na cultura ocidental, Nietzsche coloca a seguinte pergunta: onde está Dionísio, a arte, o "extase" e o impulso criativo da não - razão?
Onde está o carvão? Não merece essa matéria escura o seu espaço nos dedos de alguma madame? Você já pensou em um anel de carvão no dedo de uma mulher?
Falando em matéria escura, a Física acredita que a maior parte do universo é feita de matéria escura.
Mas e o nosso amigo carvão?
Penso que a beleza do carvão e o seu iniciático papel precisam ser reconhecidos. Belo porque alimenta a luz e o calor do fogo! Iniciático porque o fogo tem o poder da transformação. A simplicidade transforma.
A razão analítica de Apolo tem o poder do corte do diamante. Mas o impulso criativo de Dionísio tem o poder de acordar o fogo que dorme no ventre do carvão.
O fogo dorme no carvão e sonha com o calor.
A desordem e o caos (presentes nas moléculas do carvão) também são importantes em nossas vidas! Prigogine, prêmio Nobel de Química reconheceu isto.
Nos momentos caóticos e desordenados os sistemas abertos de energia evoluem e se tornam mais complexos. O desordenado carvão dionísico alimenta o fogo da transmutação e da transcendência.
Não foi o diamante que foi usado pelos primeiros seres humanos ao registrarem as suas artes nas cavernas - foi o carvão! Matéria das origens...
Podemos pensar que o ponto alfa do arranque evolutivo seja o do carvão e o ponto ômega da chegada espiritual seja o do diamante.
Mas no pensamento de Teilhard de Chardin, o alfa e o ômega encontram-se na grande mandala cósmica onde o início abraça amorosamente o fim.
Chegar ao fim é reencontrar o início.
O reconhecimento de que o carvão e o diamante são expressões distintas do mesmo carbono pode ser uma importante metáfora espiritual com repercursões no campo da ética humana.
Nas entranhas de toda a humanidade e de toda a vida - o carbono.
Nós somos seres alotrópicos ou seja, ora capazes de expressar o nosso eu carbônico na forma de carvão, ora na forma diamantina.
O caminho diamantino do "Budismo Vajrayana" aponta procedimentos tântricos que tornam possíveis a passagem do carvão ao diamante!
Mas diz a sabedoria do caminho do meio (Budismo Mahayana) que tudo tem a sua importância e o seu lugar no cosmos.
Não podemos nos esquecer que a luz e o calor do fogo que brilha podem ser alimentados pelo feio e sujo carvão que quebra.
Namastê.